Vivian - Capítulo 02
— Oh, senhorita!
Vivian franziu a testa para a voz aguda que ecoava em seus ouvidos. Assim que acordou, a luz que penetrou entre suas pálpebras era intensa. A sensação que tinha era de não ir para cama há algum tempo, mas já estava de manhã. Vivian levantou suas pálpebras pesadas com uma sensação de vontade de chorar.
— Senhorita, acorde!
— Bom dia. Hamel…
Hamel, a empregada exclusiva de Vivian, a acordou energicamente hoje. Quando ficava sentada quieta com a mente em branco, ela era frequentemente acordada pela voz de Hamel.
— Você não tem tempo para isso. Apresse-se e vamos!
Sabendo que Vivian geralmente dormia muito, Hamel costumava dar uma pequena pausa quando ela acordava. Por exemplo, alongando ou tirando a remela dos olhos.
Mas hoje foi diferente. Hamel estava ocupada tentando acordá-la. Vivian se levantou da cama, mal abrindo os olhos, que nem conseguia.
— Por quê? O que está acontecendo?
— É meu trabalho, é claro.
Hamel respondeu com uma cara despreocupada e começou a arrumar a cama de Vivian.
— Hoje é o dia em que você retorna à sua terra natal.
Vivian parou de esfregar os olhos.
Depois de um tempo, Vivian acordou e se espreguiçou.
— Ah, hoje é o dia.
— Temos pouco tempo para chegar ao porto, então você precisa se preparar rapidamente.
Assim que Vivian assentiu, a porta se abriu e as empregadas entraram. Água para lavar e suas joias também foram preparados. Vivian terminou de tomar banho rapidamente graças à ajuda das empregadas.
Quando ela se sentou na penteadeira para se vestir, seu rosto refletiu no espelho limpo. O cabelo prateado que voava sobre seus ombros antigamente, cresceu e agora cobria sua cintura. Graças ao cuidado minucioso de Hamel, o cabelo platinado de Vivian estava muito macio.
— O tempo passa tão rápido.
Sentindo a mão de Hamel secando seu cabelo molhado, Vivian murmurou.
Hoje será o dia em que Vivian retornará ao seu país natal, Mosbana, após concluir seus estudos. Embora a área de Hiddenca onde ela estava agora fosse menor do que sua cidade natal, Mosbana, era cercada pelo mar em forma de lua crescente, então a vista era deslumbrante. Mesmo na casa onde Vivian estava hospedada, se você abrisse a janela do segundo andar, podia ver o mar de frente para o horizonte.
— Está frio em Mosbana?
O Império Hiddenca, onde ela ficou para estudar, tinha clima agradável o ano todo. Sua cidade natal, Mosbana, tinha estações mais distintas do que Hiddenca, então era delicioso quando o clima estava bom, mas também era muito frio quando no inverno. Nessa época do ano, a temperatura gelada estava no auge.
— Provavelmente.
Após a resposta direta de Hamel, houve silêncio no quarto por um momento.
A razão pela qual Vivian ficou em Hiddenca em vez de Mosbana, seu país natal, foi devido aos sinais incomuns que ela apresentava.
Muitas pessoas, chamavam de “magia elemental”.
Um espírito criado por Deus que se preocupava demais com a natureza. Uma magia que podia controlar os elementos. Aqueles que nasciam com a habilidade de usar tal magia eram chamados de elementalistas.
E Vivian era a única que restava em Mosbana. Nesse sentido, a razão pela qual ela, uma nobre, deixou sua terra natal foi devido à magia elementar.
Como não havia mais elementalistas em Mosbana, não tinha professores para ensinar. Não importava o tipo, este poder tinha apenas uma base sólida. A pessoa tinha que treinar o suficiente para lidar com essa habilidade. Como resultado, Vivian veio estudar no exterior em Hiddenca, onde há uma pessoa famosa por sua magia.
‘Parece que foi ontem que pisei aqui pela primeira vez, mas quatro anos se passaram.’
Vivian olhou para o espelho atordoada. O rosto, que outrora era um pouco jovem, tinha amadurecido à sua maneira. Seus pais, que vinham visitá-la duas vezes por ano, também notaram e falaram sobre isso, então não deve ter sido apenas um palpite.
O olhar de Vivian deslizou para seu ombro pálido. Olhos azuis-claros tremulavam finalmente como se procurassem por qualquer traço de manchas. Seus ombros expostos sobre o pijama largo eram finos.
‘Ele também se foi.’
Ontem à noite, o lugar onde o homem mordeu e chupou estava limpo. Isso a lembrou mais uma vez que o encontro foi um sonho. Já faz 4 anos que Vivian estava em Hiddenca. Isso também significava que fazia 3 anos que ela se encontrava e fazia sexo com um homem em seus sonhos.
— Senhorita?
Foi então que o chamado de Hamel foi ouvido. Vivian conseguiu despertar de seus pensamentos profundos. O rosto refletido no espelho estava cuidadosamente arrumado.
— Agora você precisa trocar de roupa.
Vivian se levantou da cadeira, instruindo-a a trazer o vestido que ela queria. Enquanto trocava o vestido com a ajuda de Hamel, Vivian cuidadosamente examinou seu corpo mais uma vez.
Também estava limpo. Como papel branco puro antes de ser tocado pela pena e sendo tingido de tinta.
A lembrança de estar com o homem era clara, mas a sensação de que não havia vestígios em seu corpo era muito estranha. Ele era seu parceiro de cama, vivendo apenas em sonhos.
— Senhorita. Chegou um convidado.
Assim que Hamel terminou de se preparar e deu um passo para trás, outra empregada entrou na sala e deu a notícia. Vivian, que tinha algumas pessoas que a conheciam em Hiddenca, arregalou os olhos.
— Convidado? Quem?
— Seu mestre. Ele acabou de chegar, então eu o trouxe para a sala de estar.
Vivian instruiu Hamel a tomar as providências necessárias e desceu para o primeiro andar.
A sala de estar da janela de vidro, onde a luz do sol penetrava brilhantemente, era o lugar favorito de Vivian na mansão. Às vezes, ela ia até a sala de estar, onde podia ver o jardim, porque estava com dor de cabeça devido a um problema não resolvido. Era uma lembrança tão afetuosa que ela pensava, ao vir para Mosbana.
Ao entrar na sala de estar, Vivian viu cabelos pretos familiares e hesitou. Ela voltou a si e correu em direção ao sofá.
— Como vai?
O Mestre de Vivian, Gray, perguntou a sua pupila em um tom brusco. Vivian, que sabia que essa era sua saudação habitual, deu de ombros.
— O que está fazendo aqui? Você disse que não iria se despedir porque era tímido.
Ela se lembrava de Gray dizendo isso com certeza ontem. Gray, que estava mastigando os biscoitos e a madeleine dados pelas empregadas, tossiu. Vivian suspirou e estendeu uma xícara de chá com padrões de flores coloridas para seu professor. Gray pegou a xícara e engoliu seu chá.
— Eu não ia vir. Mas Camilla me disse para pelo menos dizer “oi”.
— Camilla é a melhor amiga que você me contou?
— Sim.
Também era um nome familiar para Vivian. Ela era uma feiticeira que se juntou a Gray e fez o que lhe foi incumbido. Uma feiticeira tão gentil que era inacreditável que fosse próxima de um professor com uma personalidade irritadiça e um comportamento estranho. Parecia que Gray não conseguia superar que veio se despedir de Vivian hoje porque disse que não viria.
— E…?
Empurrando lentamente a cestinha vazia para longe. Gray limpou as mãos. Muitos biscoitos e migalhas de madeleine caíram e sujaram o tapete, mas nem o hóspede, nem o dono se importaram. Afinal, não havia necessidade de limpar, era um espaço que ninguém usaria no futuro.
— Eu quero te dar isso.
Gray enfiou a mão nos bolsos e tirou algo, preso na mão vazia que foi colocado na mesa de mogno. Era uma nota cuidadosamente dobrada. Vivian não sabia o que era, então não tocou. O mestre, que agia mais jovem do que sua idade, era uma pessoa cheia de pegadinhas, e Vivian não era a única que tinha problemas com ele.
Como se lesse os olhos cautelosos de Vivian, Gray tinha uma voz severa. Quando pediu para abri-lo rapidamente, Vivian hesitou e pegou.
[Natura 32-42]
— O que é isso? Natura…. Não é o império conhecido como a terra do deserto?
— Certo. Depois que você partir, terei que voltar ao meu trabalho principal em breve. Existem muitos pedidos que foram adiados e acumulados ao longo dos anos.
Ao contrário do mago em cada país centrado na associação, ou cavaleiros que pertenciam a um império e conferiam títulos, o elementalista não tinha uma licença para provar sua identidade. Para ter essa licença, precisava de um grupo ou associação adequada, mas o número de elementalistas não era suficiente para formar um único grupo. Eram raros porque havia poucos em todo o mundo.
Isso não significava que suas habilidades não fossem verificadas. Habilidades são frequentemente conhecidas apenas por mostrá-las. Talvez o verdadeiro valor de um mago espiritual, que pode ter existido até mais tempo do que um mago elemental, já tenha sido reconhecido e passado por gerações. Era a habilidade de lidar com a natureza sem hesitação como o Criador, então ninguém ousava se opor a ela.
Portanto, os elementalistas recebiam geralmente pedidos pessoais daqueles que precisavam de sua ajuda. Este era o caso de Gray, o mestre de Vivian.
Gray é um mago reconhecido no mundo por sua habilidade, diferente de sua personalidade ignorante. Foi puramente pela educação de Vivian que ele fez par com a feiticeira Camilla e parou de receber encomendas de vários países. Agora que a discípula cresceu e chegou a hora de ela retornar, ele também está tentando encontrar seu lugar como professor.
Vivian estreitou os olhos enquanto brincava com o bilhete.
— Quem escreveu isso para você? Mestre, você não é bom em escrever.
Vendo que a caligrafia estava perfeita, não foi escrita por ele. Gray Willaim era um péssimo calígrafo reconhecido em Hiddenca. Vivian recomendou a prática várias vezes ao seu mestre, que escrevia frequentemente, mas Gray jogou o convite fora, afirmando que ‘Maus calígrafos são gênios.’
— O que há de errado com a minha caligrafia?
Gray perguntou com uma expressão severa. Vivian suspirou, mexendo no bilhete.
— Depois disso, mesmo que o mestre envie uma carta mais tarde, sinto que não serei capaz de ler nenhuma delas… Existem muitas ferramentas hoje em dia para corrigir a caligrafia.
Mesmo que não houvesse preocupações quando estavam juntos, seria um problema quando trocassem cartas mais tarde. Toda vez, como hoje, Camilla, uma amiga próxima, não conseguia escrever para ele. Pode ter sido uma provocação no começo, mas agora era uma preocupação genuína. Gray descartou o conselho sincero de Vivian novamente.
— Acabou de falar sobre minha escrita. Você não vai parar de falar sobre isso agora? Então, o que estou dizendo é que há uma grande coisa chegando dessa vez e eu vou ficar em Natura por um tempo.
Terra desértica Natura. Um império quente e apaixonante que não pode ser comparado a Hiddenca. Gray, que era fraco no calor, respirou fundo enquanto fingia estar enxugando o suor como se estivesse quente só de imaginar.
Não só Vivian, que ficou por 4 anos, mas também seu mestre estava deixando Hiddenca. Com a notícia, a voz de Vivian diminuiu drasticamente, e apenas seus lábios se contraíram enquanto o bilhete ainda estava em sua mão. Era Vivian quem costumava brincar que estava indo embora, mas infelizmente, percebeu que havia chegado a hora de dizer adeus.
— Por que você está assim?
Gray tomou um gole do chá perfumado e sorriu. Se ele realmente não sabia sobre o que Vivian estava chateada, ou se ele estava fingindo não saber, o professor indiferente se sentiu rebelde. Vivian lutou para suprimir seus sentimentos e levantou a cabeça.
— Não é nada, mas por que você está me dando isso?
— Sou o único a quem você pode perguntar sobre suas habilidades.
Vivian ficou furiosa com as palavras que apunhalaram seu ponto sensível. Para ela, a única pessoa que poderia resolver a questão da magia elemental era seu mestre. Gray bateu na mesa de mogno com o dedo.
— Então, se você tiver alguma dúvida, entre em contato comigo. O endereço no verso é o número da rua onde ficarei hospedado por um tempo.
Considerando que o número da rua já estava decidido, parece que sua ida para Natura foi confirmada. Vivian respondeu que entendia, e dobrou o bilhete com decepção. Não conseguiu nem fazer de forma triste, era uma despedida que já estava planejada.
— A propósito, o que você vai fazer quando retornar ao seu país de origem?
Gray perguntou abruptamente. Em resposta à pergunta inesperada, Vivian fez uma expressão confusa como se tivesse sido atacada. Em resposta a essa reação, uma ruga foi gravada na testa de Gray.
— Você ainda não pensou nisso?! Está planejando perder tempo? Precisa trabalhar duro enquanto é jovem.
Gray sempre soou como um homem antiquado. Na verdade, a diferença de idade entre ele e Vivian era de apenas quatro anos. Vivian, lembrando-se da diferença de idade entre ela e seu mestre, revirou os olhos e balançou a cabeça.
— Não é que eu não tenha pensado.
— Então?
— Eu não sei… Não pensei sobre isso.
Talvez a maneira mais estável e fácil de ganhar dinheiro seja receber uma missão como a de Gray e ser pago de acordo.
No entanto, um pedido não é algo fácil de se conseguir para alguém cujo nome não é conhecido. Tem que haver uma conquista digna, e as pessoas têm que ser reconhecidas por suas habilidades. É por isso que Gray sempre disse para construir o máximo de conquistas possível em uma idade jovem.
— Acima de tudo, no meu país de origem…
Vivian se lembrou de sua cidade natal, Mosbana. Muita coisa aconteceu desde que Vivian despertou como uma maga. Talvez quando voltar para Mosbana, haja muita coisa para resolver. O rosto do pai, a mensagem do Imperador, seus poderes. No momento em que seus pensamentos se emaranhavam, a boca de Vivian se fechou.
Ao ver rosto de Vivian, que estava sombrio, Gray deu de ombros como se isso fosse compreensível.
— Você disse que era a única elementalista em Mosbana.
Originalmente, coisas raras estimulam a ganância das pessoas. Como belas joias, vestidos extravagantes, espadas fortes e escudos impenetráveis. Nesse sentido, sua existência e habilidade são tão raras que Vivian, uma nativa de Mosbana, nunca será deixada ir facilmente. Ela poderia ser usada como um recurso valioso para o país, ou pode ser escondida de outros impérios como uma planta de estufa.
— É a sua vida, então não posso decidir por você.
Gray, que havia tomado uma xícara cheia de chá, pousou a xícara bruscamente.
— Não seja explorada pela ganância das pessoas. Não permita que menosprezem você.
— ……
— Não importa como o mundo possa mudar no futuro, o fato de um elementalista ser precioso nunca mudará. Porque somos raros neste universo. Então, onde quer que você vá, haverá uma necessidade de sua força e uma necessidade de você. Especialmente porque é boa no elemento terra.
Ouvindo as palavras de seu mestre depois de um longo tempo, Vivian caiu na gargalhada sem perceber. Gray, cujas sobrancelhas se alargaram com a risada inoportuna, levantou-se lentamente.
— Você deveria ir para o porto. Camilla me disse que voltaria logo, então eu tenho que ir agora.
— Sim.
Os dois saíram do portão da mansão. Gray estava prestes a subir na carruagem, mas se virou como se ainda tinha algo a dizer.
— Vivian, você.
Vivian estreitou os olhos. Gray, que estava encarando, estendeu imediatamente a mão como se estivesse tudo bem.
— Não, está tudo bem.
— O que é?
— Nada… se houvesse algo, eu teria dito.
Gray cortou a conversa de forma adequada e entrou na carruagem. Vivian ficou um pouco emocionada com a atitude obstinada de seu professor, como sempre, mas ver seu mestre sentado na carruagem a fez se sentir triste novamente.
— Muito obrigado, mestre.
Gray, que estava batendo na porta do motorista, enrijeceu seu corpo com o agradecimento de Vivian. Por um momento, ele pareceu ter se transformado em uma pedra. Era anormal o suficiente para fazer um barulho agudo quando se virou para Vivian. Mesmo que a reação fosse esperada, o rosto de Vivian estava de alguma forma pálido. O relacionamento deles era geralmente seco, então não conseguia suportar os sons embaraçosos.
— Ah, é por isso que eu disse que não queria te ver partir. Isso mexe com meu coração. Sério.
Gray murmurou, por algum motivo, suas orelhas vermelhas. No entanto, ele parecia envergonhado ao ver que ele não parecia odiar isso.
— Ei, Vivian. Não é como se nunca mais fôssemos nos ver novamente.
Gray, que voltou a si, encontrou os olhos dela firmemente com pupilas cinzentas. Vivian assentiu com a cabeça, porque era verdade.
— Se você não encontrar trabalho, pode vir para a Natura. Como eu tenho o espírito da água e você tem o espírito da terra, eles combinam bem. Camilla também não te odeia.
Vivian sorriu gentilmente diante do carinho de seu mestre, que fingiu não ser afetuoso.
— Sim, eu lhe enviarei uma carta se eu tiver que ir visitá-lo.
—Sim, não perca a nota e guarde-a em segurança.
A mão de Gray se aproximou e tocou no ombro de Vivian. Era uma mão esbelta, com calos ásperos que indicavam que sua vida não era fácil. Vivian apenas olhou para a evidência do trabalho duro de seu professor.
— Volte em segurança.
— Sim, você também, cuide da sua jornada para Mosbana.
Depois de um último adeus, a porta da carruagem se fechou, e as rodas começaram a rolar lentamente.
— Vamos agora?
Hamel se aproximou de Vivian, que entrou na mansão após se despedir de seu mestre. Graças a Hamel, que estava com pressa, os preparativos para seu retorno à cidade natal foram rapidamente concluídos. Vivian olhou ao redor da mansão onde estava há quatro anos, pouco antes de sair completamente pela porta. O cavaleiro subiu na carruagem que continha as malas das empregadas, que foram carregadas uma por uma.
— Parabéns, senhorita. Você finalmente vai voltar.
O cocheiro cumprimentou com boa graça. Vivian respondeu com um sorriso e subiu na carruagem. A caminho do porto, Vivian olhou pela janela. A capital de Hiddenca, uma atmosfera diferente de Mosbana, passou rapidamente por seus olhos, mas não alcançou a mente de Vivian.
Vivian estava pensando no homem dos sonhos.
Continua…