Uma proposta vulgar - Capítulo 02
— O que você quer dizer…?
Os olhos de Inês se arregalaram, como se ela tivesse ouvido errado. Seu olhar para Charles estava cheio de dúvida e choque, como se esperasse que seus ouvidos a tivessem enganado.
— Por que está me olhando assim?—Charles perguntou, franzindo a testa com descontentamento. — Alguma vez eu menti para você?
De fato, ele nunca havia mentido para Inês. Sempre cumprira suas promessas a ela.
Até agora, ele havia cumprido a antiga promessa de se casar com Inês se voltasse vivo da guerra, ainda que tardiamente.
Os olhos de Charles, enquanto fitava Inês, queimavam com intensidade. Eram os olhos de um caçador que finalmente capturara a presa há tanto tempo desejada.
Seus dedos, que envolveram sua face pálida, deslizaram lentamente para baixo, deixando uma marca vermelha em sua pele de porcelana.
Dedos ásperos acariciaram seu queixo e tocaram seu pescoço esbelto, que parecia frágil o suficiente para quebrar se apertado com mais força.
Os dedos, movendo-se friamente como se quisessem cortar sua garganta, desceram gradualmente.
Quando a linha vermelha, tingida com um cheiro metálico, alcançou sua clavícula, seu olhar fixou-se nos seios de Inês.
Plink, plink. Gotas vermelhas de sangue caíam uma a uma sobre o elmo. A carne branca aparecia por entre o vestido rasgado.
Só então uma centelha de vida surgiu em seus olhos, antes vazios. Inês afastou rapidamente a mão de Charles e o encarou enquanto recuava, um claro sinal de rejeição.
Charles, observando-a, soltou uma risadinha.
— Ah, certo… pensando bem, você não é minha cunhada.
Ele balançou a cabeça, como se percebesse que havia falado errado.
— Nem sequer chegaram a se casar, então como você poderia ser minha cunhada?
— A menos que você já tenha ido para a cama do meu irmão.
Ele se referiu aos rumores de que ela e Joseph haviam dormido juntos antes mesmo de se casarem.
Manter-se casta antes do matrimônio era considerado essencial para uma mulher, e os boatos haviam arruinado severamente a reputação de Inês. Charles continuou a falar, zombando de sua situação.
— Então devo chamá-la de Senhora Claudia. Ah, mas como a família Claudia foi exterminada hoje, acho que não posso mais a chamar assim.
Ele torceu os lábios, destacando sua queda repentina.
— Charles.
Mas Inês não ouviu o sarcasmo dele. Essas coisas não importavam para ela agora.
— O que você quer dizer com ‘me tornar sua esposa’? Certamente, você não está sugerindo que…
Seus olhos tremeram levemente ao fazer a pergunta. Parecia que ela esperava que ele negasse. Mas sua resposta esmagou sua frágil esperança.
— Eu farei de você minha rainha.
Inês suspirou. Aquilo foi como um raio para ela, que aguardava calmamente pela morte. Ninguém neste reino a aceitaria como rainha. Todos esperavam sua queda, ansiosos para ver sua cabeça rolar no cadafalso. Mas ser rainha… se isso acontecesse…
Inês juntou as pregas de seu vestido espalhadas e levantou a cabeça.
— Você está louco? Acha que as pessoas vão simplesmente ficar olhando enquanto eu me torno rainha? Além disso, eu não tenho estatura para ser rainha…!
Sua voz, antes calma, começou a se elevar em agitação.
— Por quê?
Uma voz gelada cortou suas palavras.
— A senhora não quer ser minha esposa?
Ele ainda usava linguagem formal com ela, mantendo a polidez, mas seus olhos e ações não eram tão corteses. De repente, faíscas brilharam em seus olhos enquanto ele segurava o queixo de Inês.
— A senhora mesma disse isso antes. Que queria ser minha esposa.
‘Eu quero ser sua esposa.’
O eco daquelas palavras do passado, agora como um vento passageiro, ressoou em seus ouvidos.
Charles Ivan, que um dia ouvira aquelas palavras inúteis, cerrou os dentes.
Ser a esposa de Charles — sim, era um futuro que Inês também já sonhara um dia. Mas não mais.
Assim que Inês estava prestes a falar, o som de metal se chocando e o forte cheiro de sangue invadiram o quarto. Percebendo que alguém estava prestes a entrar, Charles levantou-se.
Rapidamente, ele tirou o manto e o colocou sobre o rosto de Inês. Num instante, seu pequeno corpo ficou escondido sob o grande manto.
Naquele momento, cavaleiros entraram no quarto, e o cheiro de sangue ficou ainda mais intenso.
— Vossa Majestade.
Entre os cavaleiros que cumprimentaram Charles com respeito, um homem falou:
— Ainda não capturamos Joseph, mas eliminamos todos os seus homens que ficaram para trás.
Às palavras do cavaleiro, Inês estremeceu. Ela não precisava perguntar, o cheiro sufocante de sangue era prova suficiente.
— Basta. Continuem a perseguição e terminem isso. E…
Charles olhou brevemente para Inês antes de dar uma ordem fria.
— Levem a dama, com respeito.
Um cavaleiro perguntou, em resposta à sua ordem:
— Levaremos ela para a prisão subterrânea?
— Não.
— Então… para a torre?
A voz do cavaleiro vacilou ao fazer a pergunta. A torre era, por tradição, o local de reclusão da realeza. Como Inês ainda não havia sido coroada rainha, tecnicamente, seu lugar deveria ser a masmorra subterrânea.
No entanto, considerando que ela havia exercido o poder por anos como noiva do rei, confiná-la na torre não seria algo inesperado. Por isso, o cavaleiro presumiu que esse seria seu destino. Mas as próximas palavras de Charles desafiaram todas as expectativas.
— Levem-na ao Palácio dos Lírios.
O ar ficou gelado, como se tivessem derramado água congelante sobre todos. Porque aquele palácio era…
— Esse é o palácio que abrigou as rainhas por gerações. Como uma criminosa pode…
— É exatamente por isso que ela deve ficar lá.
Charles continuou num tom indiferente.
— Ela vai ser minha esposa.
Ele falou como se estivesse afirmando o fato mais óbvio. Os cavaleiros ficaram em silêncio, avaliando o clima.
No dia em que o palácio foi varrido por uma tempestade sangrenta, outra tempestade invisível se aproximava.
Talvez nosso encontro nunca tenha sido destinado a acontecer desde o início.
‘Eu vou esperar por você, Char.’
Se eu soubesse que era uma promessa que não poderia cumprir, não a teria feito tão levianamente.
Não, desde o começo, quando você disse que iria para a guerra pelo nosso casamento, se eu tivesse te impedido, pelo menos…
Perdida em suas memórias, Inês levantou a cabeça de repente ao ouvir o barulho lá fora.
— Matem a bruxa de Tezever.
Desde que sobreviveu, os gritos da população ecoavam diariamente do lado de fora de seu quarto.
Clanck
Inês, incomodada, fechou a janela. Alguém a deixara aberta de novo hoje, como se quisesse garantir que ela ouvisse os clamores por sua morte.
A cabeça girava, e uma náusea a invadiu. Após a rebelião, a notícia de que Inês — que deveria ter sido executada — se tornaria a nova rainha provocou forte oposição entre os apoiadores dos rebeldes.
Protestos exigindo sua morte ocorriam quase todos os dias, e cartas ameaçadoras inundavam o palácio real.
Todos a odiavam. 🥹🥹🥹
Todos desejavam sua morte.
(Elisa: Ela é só um bebê em meio a muitos monstros 😭😭)
Sua família já havia caído, as cabeças de seu pai e irmão foram cortadas e penduradas nos muros da cidade, mas as pessoas queriam que sua cabeça também fosse pendurada ao lado deles.
Exceto por um homem.
‘… Charles.’
Por que ele não conseguia deixá-la ir?
Um homem outrora desprezado havia ascendido a uma posição que ninguém podia ignorar. Agora, todos se ajoelhavam e curvavam a cabeça diante dele. Mas e agora?
Com apenas uma declaração para nomeá-la rainha, tudo o que ele construíra com tanto esforço estava novamente à beira do colapso. O olhar de Inês se escureceu.
‘Eu fui um fardo para você, tanto no passado quanto agora.’
O peso da culpa por traí-lo no passado pesava seus ombros.
Embora tivesse sido uma escolha feita sob as ameaças do pai, o fato permanecia: ela o ferira.
— Eu ainda am—… Charles…
Inês, recordando brevemente o rosto de Charles, cerrou o punho.
‘Ainda o amo.’
Esse sentimento nunca havia mudado, nem por um único momento. Por isso, ela não queria ser um fardo para ele. Inês, de costas para a janela, levantou a cabeça.
— Preciso tentar impedir isso mais uma vez.
Ela decidiu ir até Charles e convencê-lo de que esse casamento jamais poderia acontecer. Pediria que ele a enviasse a um convento. Se tirar sua vida fosse incômodo demais, então que ao menos fizesse isso por um simples por favor.
Com essa decisão, Inês pegou a bengala que havia encostado na parede e saiu do quarto. Enquanto mancava, os olhares afiados dos outros a perfuravam, mas esses olhares não eram um problema. Ela estava acostumada. No entanto…
— Parece que você dormiu bem.
O homem que encontrou no corredor ainda era alguém a quem ela não estava habituada. Inês, que estava olhando para o chão, levantou finalmente a cabeça.
Herman Tishi.
Ele era o braço direito de Charles e um dos principais responsáveis pela recente rebelião.
— Bem, alguém que deveria estar esperando a morte em uma prisão subterrânea está em um quarto aconchegante… É claro que deve ter dormido bem. 🤨🤨
Herman zombou, apesar dela ser um remanescente da dinastia anterior que ainda vivia em conforto. Inês ouviu em silêncio a hostilidade descarada de Herman. Ela o conhecia há muito tempo. Porque ele era…
Continua…
Tradução Elisa Erzet