O Príncipe Problemático - Capítulo 40
A casa de Pavel estava vazia e a porta permanecia firmemente fechada. Erna bateu na madeira dura uma última vez, mas ainda não havia movimento além do que ela conseguia detectar.
O vento a fustigou e a fez cambalear um pouco. Ela conseguiu se segurar, mas soltou seu malão no meio tempo. Ela não podia fazer nada além de vê-lo chacoalhar pelos degraus de pedra. Com um suspiro reservado, ela tirou a carta que havia preparado e a colocou entre a fresta da porta e foi pegar seu malão.
Ao levantar o baú, a alça quebrou e Erna pôde sentir seu coração afundar pesadamente com tristeza. Era apenas uma alça, mas por algum motivo, foi o gatilho que desencadeou uma tristeza pesada. Ela fechou os olhos com força, tentando lutar contra as emoções que nadavam em sua mente.
Abrindo os olhos novamente, ela arrastou o baú até a escada e olhou para ver se conseguia consertar a maçaneta de alguma forma, mas não adiantou, a dobradiça e o fecho que o mantinham unido estavam completamente quebrados. Desanimada, Erna caiu no degrau inferior e ficou de mau humor.
Ela olhou para cima e para baixo na estrada, tentando pensar no que fazer, mas um tronco quebrado era uma eventualidade com a qual ela não contava e ela não gostava da ideia de arrastar a coisa pesada pela cidade. Então, ela esperou por Pavel.
Ela abaixou a cabeça enquanto as pessoas passavam por ela, memórias da noite passada subitamente surgiram em sua mente, ela não queria que as pessoas a reconhecessem e gerassem ainda mais rumores e escândalos.
A longa espera continuou por todo o dia e até o pôr do sol. Ela teve uma premonição de que Pavel não voltaria, se não voltasse até o pôr do sol. O que ela faria agora? Não havia como ficar na cidade por mais tempo.
O cansaço começava a invadir os cantos de sua mente e a deixar sua cabeça confusa e distante. Descansando a cabeça nos braços cruzados, apoiada nos joelhos, ela foi surpreendida por uma voz masculina. A princípio, ela pensou que fosse algum sonho lúcido.
“Erna?”
Ela olhou para cima quando a voz do homem a chamou, ecoando pela rua. Seus olhos turvos lutaram para ver quem era, mas a voz era inconfundível.
“Pavel, você ainda está aqui?” Ela gritou de volta.
Não havia chance de ela lutar contra o sorriso que se espalhava em seu rosto, mesmo enquanto pensava em como ele havia quebrado sua promessa na outra noite. Pavel correu até ela, seu rosto estava sombrio.
“O que houve, Pavel?” Erna disse, o sorriso desaparecendo.
“Eu… uh… eu preciso te levar para o hospital.” Pavel disse categoricamente. Então ele notou os hematomas e cortes meio curados no rosto de Erna. “O que aconteceu com seu rosto, era seu pai? Aquele bastardo, aquele bastardo colocou as mãos em você?”
“Agora não, o que está acontecendo, o que aconteceu?” Erna disse.
Havia tanto para falar, tantas perguntas que ela queria fazer, mas a mais importante naquele momento era: por que ela precisava ir ao hospital?
“É sua avó, Erna, venha, temos que ir imediatamente.” Pavel disse e pegou a mão dela como se fosse guiá-la por todo o caminho.
“O quê? Pavel, espera, o que aconteceu com minha avó e por que ela está na cidade?” Erna ficou desesperada.
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“Acho que nasci na época errada.”
Bjorn chegou à conclusão quando viu de relance o tabloide de hoje escondido debaixo do braço de um atendente. Havia uma foto dele, ampliada na capa. Era uma foto muito boa hoje.
“Eu deveria ter nascido em uma era de selvageria moderada, quando não seria mal visto cortar a garganta de bastardos irritantes.” Bjorn se inclinou sobre a mesa e mirou seu taco na bola branca.
Com um toque suave, a bola de marfim rolou sem esforço pela mesa, passando entre duas bolas e atingindo seu alvo pretendido. Ele sorriu. Era um contraste gritante com a raiva em sua voz.
Raiva, espanto e perplexidade passaram pelo rosto de Leonid quando ele viu o jornal também. Era um escândalo sujo e provocativo que não deixava dúvidas sobre quem era o bastardo a quem Bjorn estava se referindo.
“Devo admitir que suas habilidades de escrita estão melhorando, mal posso esperar pelo próximo episódio.” disse Bjorn.
“Acho que esse tipo de tática barata para ganhar leitores deveria ser sancionada de alguma forma”, disse Leonid, alinhando sua tacada.
“Devo comprar?”, perguntou Bjorn.
Ele apoiou o taco na parede enquanto pegava seu copo, ouvindo o som do gelo batendo no cristal enquanto ele tomava um gole medido.
“Graças a mim, eles estão vendo uma receita maior, acho justo que eu receba uma porcentagem desse lucro.” Bjorn disse.
“Bjorn.” Leonid disse em um tom de repreensão sobre o som de bolas batendo. “Sua vez.”
Cara maluco . Leonid murmurou enquanto se afastava da mesa. O jogo não estava indo a seu favor hoje. Leonid não estava conseguindo produzir nem metade de sua habilidade habitual no jogo. Normalmente ele conseguia fazer Bjorn suar um pouco.
Ele estava distraído. Sua mãe concordar em deixar Bjorn se casar com Erna Hardy certamente foi uma notícia chocante e quando Bjorn veio até ele, todo sorrisos e risadas, ele perguntou se Leonid queria jogar algumas partidas de bilhar.
Leonid aceitou. Ele tinha feito algo parecido quando decidiu se divorciar de Gladys, embora naquela época houvesse muito menos sorrisos e muito mais ameaças de violência. Leonid tocou tão bem naquele dia quanto hoje.
Eles brincaram o dia todo e terminaram sentados lado a lado enquanto o sol se punha à noite, apreciando a paisagem na sacada. Era fim de primavera e as flores estavam em plena floração.
“Você realmente vai se casar?” Leonid disse, afastando-se da mesa.
“Você está louco?”, disse Bjorn.
Bjorn riu maliciosamente, mas a expressão de Leonid não mudou. Seu irmão gêmeo, gêmeo apenas na aparência, sua mente era muito mais complicada e leve. Ele era assim, desde que eram jovens.
Bjorn venceu, sem surpresa para nenhum dos dois. Os irmãos gêmeos sentaram-se na mesa de bilhar e assistiram ao pôr do sol pela janela enquanto terminavam suas bebidas.
Na manhã seguinte, enquanto Bjorn estava sob um fluxo constante de água quente, ele se lembrou da promessa que havia feito graças às notícias que seu pai havia repentinamente jogado sobre ele. Determinado a pôr fim ao escândalo e apagar a presença dela de sua vida, Bjorn correu para a casa da cidade assim que se vestiu.
Quando chegou lá, ele descobriu que Erna já tinha ido embora. Ela tinha uma carta esperando por ele, caso ele parasse aqui. Era algo muito formal e não dizia nada além de quão grata ela estava, mas ela não precisava pedir dinheiro emprestado.
A atitude na carta era meio intrusiva, para dizer o mínimo, mas Bjorn decidiu deixar para lá. Ele não tinha motivo para entregar dinheiro pessoalmente, nem para procurar a mulher. Ele realmente se sentiu aliviado por Erna Hardy ter ido embora. Pelo menos as dores de cabeça finalmente iriam embora.
“Decidi deixar você se casar com Erna Hardy.”
As palavras de seu pai ecoaram em seu subconsciente, por mais absurdas que fossem, o deixaram cambaleando e ele se encostou na parede. Ela se foi agora, longe do tumulto da cidade e de volta à sua vida caipira no campo. Não demorará muito e sua vida voltará ao normal.
“Bjorn, espero que você encontre uma moça legal, uma boa garota que apague toda a dor que Gladys lhe causou.” A voz de Leonid de ontem chegou até ele. “É por isso que não gosto da Srta. Hardy, não sei o que a mãe e o pai pensam, mas falo sério.”
“Você está bêbado, sua alteza?” Bjorn perguntou enquanto cambaleava ao redor da mesa de bilhar, mas Leonid não mostrou nenhum sinal de recuar.
Bjorn ficou grato por ver a Sra. Fitz quando voltou ao palácio, mas a expressão dela era de preocupação.
“Alteza, sou eu, Srta. Hardy…” Ela começou e então parou, lutando para encontrar as palavras certas.
“O que foi, diga-me, Sra. Fitz.” Bjorn disse friamente. Ele ficou ansioso com a menção da mulher que ele já havia expurgado de sua mente.
“A senhorita Hardy está no Royal Schuber Hospital.”
“Hospital?” Bjorn retrucou.
“Sim, erm, ela está bem, era a Baronesa Baden, ela desmaiou na delegacia e foi levada. A Srta. Hardy está lá agora, cuidando da Baronesa.”
Algo de alívio apertou o coração de Bjorn, alívio por Erna não estar machucada. Alívio por Erna ainda estar na cidade.
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“Você está corrompido, você caiu…”
Foi tudo o que a Baronesa conseguiu dizer à sua Neta quando viu a criança de pele clara sentada na cadeira ao lado da sua cama. Sua mão ossuda tremia enquanto ela massageava o lado da cabeça.
“Por favor, vovó, não se excite.” Erna disse, ela se levantou e foi verificar a Baronesa, mostrando sua verdadeira natureza gentil e atenciosa.
“Você quer saber por que estou aqui em primeiro lugar?” Ela lançou um olhar severo e desaprovador para Erna. Era um olhar que dizia a Erna que ela não acreditava mais na jovem, mas não importava o que acontecesse, Erna ficaria de guarda ao lado da cama dela.
“É comum na cidade, vovó, as pessoas gostam de fofocar e espalhar boatos. É a tendência.” Erna disse, sentando-se novamente.
“Tendência? Tendência, meu Deus Erna, esta cidade te corrompeu.” Gritou a Baronesa.
Erna tentou explicar várias vezes à Baronesa que os rumores eram todos mentiras e mentiras terríveis nas quais nem mesmo uma criança acreditaria. O caso com o Grão-Duque foi um mal-entendido que as pessoas levaram longe demais. Não ajudou que ela continuasse encontrando o Grão-Duque e ele se comportasse da maneira mais pouco cavalheiresca.
A Baronesa simplesmente lamentou que não deveria ter enviado seu filho para cá. Ficar na casa de um homem, andar com pessoas doentias, tendências de fofoca e agora um príncipe venenoso. A cidade era um lugar perverso que havia corrompido Erna.
“Preciso descansar.” A Baronesa sussurrou com uma voz cansada e balançou a cabeça.
Foi um milagre que Erna tivesse aparecido assim, quando ela pensou que estava desaparecida por dias. A Baronesa pensou o pior, especialmente depois de ouvir os rumores e fofocas, e depois ler o jornal? Era o suficiente para colocar uma mulher idosa em uma sepultura precoce e quase aconteceu. Mas ainda assim, Erna apareceu como ela fez e ela estava bem.
“Sim, vovó.” Erna disse. “Descanse agora, eu vou te acordar na hora da refeição.”
Erna se levantou e saiu do quarto do hospital, apenas para a Sra. Greve tomar seu lugar. Erna foi pelo corredor, até a janela que dava para o pátio, na frente do hospital. Ela estava se segurando.
Ela viu seu reflexo no vidro da janela e não reconheceu a jovem garota que a encarava de volta. Olhos horríveis, como se ela não tivesse dormido por dias e estivesse coberta de maquiagem para esconder todos os hematomas e cicatrizes.