O Marido Malvado - Capítulo 16
Uma Eileen que estava prestes a ser vendida pelo pai e levada a um país estrangeiro naturalmente procuraria Cesare em busca de ajuda.
O plano original de Cesare não era encontrá-la em sua propriedade, mas intervir três dias depois, quando o velho porco viesse levar Eileen embora.
— Ver seu rostinho sempre me deixa fraco.
Cesare brincava com seu relógio de bolso em uma mão e enrolava o cabelo de Eileen com a outra. Lotan suspirava ao ver aqueles fios castanhos mexidos de um lado para o outro.
— Não teria sido melhor se você nem tivesse deixado ela ver o Barão Elrod, já que estava se sentindo ‘tão fraco’?
— Ah, isso não daria certo. Não posso negar os desejos da minha noiva, posso?
Apesar de responder calmamente, Lotan sabia muito bem que tipo de homem era seu mestre. Ele poderia ter sido mais discreto, mas mostrou deliberadamente a Eileen aquela cena repugnante para afastá-la de vez do pai.
Independentemente de quem fossem, Eileen simplesmente não conseguia abandonar sua família. A falecida Baronesa também não era mentalmente estável — era uma mulher frágil, com problemas psicológicos, que abusou de sua única filha por muito tempo. Para o bem ou para o mal, Eileen amava sua mãe de todo o coração.
Lotan admirava a pureza de Eileen, mas isso sempre o deixava em conflito ao vê-la sofrendo. Seu desejo de protegê-la colidia com o pensamento de que ela deveria ser um pouco mais implacável.
Esses sentimentos se intensificavam sempre que a via se envolvendo em coisas que estavam além de sua compreensão.
No entanto, apesar de toda sua relutância, no fundo, ele também desejava que a garota se tornasse a próxima Grã-Duquesa. Então, parou de reclamar e mudou de assunto.
— O que você vai fazer com Marlena? Acho que ela não vai recuar tão facilmente.
Quando o laboratório fechou, Eileen pediu ao dono da pousada que cuidasse de seus clientes. Ela os assegurou que a pousada ainda venderia os remédios, então não havia motivo para preocupação, mesmo que a porta estivesse temporariamente fechada.
Uma coisa que Eileen não percebeu foi que seus clientes a amavam. Então, quando ela fechou a clínica subitamente e desapareceu, todos se apressaram para descobrir o que havia acontecido, temendo o pior.
Seus clientes não faziam ideia de que Eileen era filha do infame Barão Elrod e favorita do Duque Erzet. Eles só a conheciam como uma boticária inteligente, mas pobre, com um amor excêntrico por plantas.
Quando Eileen desapareceu, Marlena foi a primeira a iniciar uma investigação. Ela sabia que a garota era um talento promissor, mas não poderia imaginar que estaria enfrentando Cesare.
Marlena já havia carregado o filho de um nobre, foi forçada a abortar e depois banida da Rua Fiore. Foi Cesare quem estendeu a mão, oferecendo-lhe uma chance de vingança e ajudando-a a se reerguer.
Com a ajuda de Cesare, Marlena fez um retorno glorioso. Em troca, tornou-se os olhos e ouvidos do Duque.
— Deixe que ela encontre Eileen. Marlena é útil de muitas maneiras.
Lotan ficou surpreso com a permissão gentil de Cesare. Talvez percebendo sua confusão, Cesare continuou com uma breve explicação:
— Afinal, Eileen não fará sua estreia social em breve?
Sendo a dançarina mais famosa de Fiore, sua influência era tamanha que ultrapassava as sombras e alcançava os círculos sociais da capital.
Marlena era frequentemente convidada para bailes da nobreza, onde era tratada como uma convidada de honra. Quando Eileen aparecer, ela servirá como o trunfo de sua pequena noiva.
— Vou informar Marlena que ela tem sua permissão para encontrar a jovem senhorita.
Marlena ficaria satisfeita com isso. Lotan sentiu-se aliviado, considerando uma sorte que as coisas finalmente estivessem seguindo em uma direção positiva.
Os vapores que Eileen inalou hoje não eram estranhos aos frequentadores de Fiore. Mas, para ela, que não tinha tolerância, era uma droga potente.
Lotan suspeitava que Cesare a fez inalar a fumaça de propósito. Então, ele parou, achando que estava subestimando demais seu mestre.
— Ah, quase me esqueci…
Cesare ordenou tranquilamente:
— Mande anunciar meu casamento nos jornais de amanhã.
Isso significava declarar a todo o império, para que Eileen não pudesse mudar de ideia.
Gostando ou não, a partir de amanhã, Eileen se tornaria uma tempestade que varreria todo o Império Traon.
— Sim, Vossa Graça.
O que Lotan poderia fazer se era a vontade de seu mestre? Só podia obedecer. Ele apenas esperava que Eileen não sofresse demais.
🌸🌸🌸
Seria por nervosismo ou puro cansaço? De qualquer forma, Eileen acabou adormecendo nos braços de Cesare sem querer.
Pensando bem, acontecera tanta coisa em um único dia. Ela estava quase desabando de exaustão devido aos preparativos na residência do Grão-Duque.
Quando abriu os olhos, estava em um quarto no segundo andar de uma casa de tijolos. Eileen suspirou aliviada ao sentir o conforto de seu ambiente familiar. Cesare parecia tê-la levado para casa enquanto ela dormia.
Eileen abriu os olhos, ainda envolta no cobertor, e olhou para o teto.
Apesar da visão embaçada, lembrava-se de Cesare a deitando gentilmente enquanto cochilava. Ela devia ter adormecido com a cabeça no colo dele.
‘Era algo que eu fazia quando era criança…’
Mas pensar que o usou como travesseiro… Que comportamento vergonhoso! Puxando as cobertas sobre o rosto, ela se encolheu.
‘É por isso que ainda me tratam como uma criança.’
Ainda assim, ao acordar de seu sono profundo, sua mente clareou. Eileen refletiu muito sobre os eventos do dia anterior.
Mesmo tendo visto seu pai com outra mulher… O resultado foi melhor do que esperava. Parecia que o choque foi tão profundo que ela conseguiu deixar tudo para trás.
Eileen relembrou calmamente os acontecimentos. Tudo estava fragmentado, distante e confuso. Mas uma lembrança permanecia nítida:
“Quem diria que você teria culhões para vender sua filha enquanto fodia por aí, Barão Elrod.”
Aquele comentário vulgar deixou uma forte impressão nela. Quem diria que Sua Graça teria um linguajar daqueles.
Mas, pensando bem, Cesare era um soldado. Deve ter proferido muitas obscenidades no calor da batalha.
Exceto Senon, todos os cavaleiros de Cesare tinham bocas sujas. Diego e Michele não eram exceções, e até Lotan às vezes xingava. Claro, eles tentavam não demonstrar na frente de uma dama nobre como Eileen.
No sigilo absoluto de seu quarto, Eileen imitou Cesare em um sussurro:
“Porra…”
Logo cobriu a boca e olhou em volta. Não soava igual. Quando saía da boca de Cesare, até aquela palavra soava refinada.
Eileen se levantou da cama e levou a mão aos lábios como se estivesse se repreendendo por dizer algo feio. Desceu e viu que a porta do quarto de seu pai estava fechada. Parecia que ele tinha finalmente voltado para casa.
‘Será que ele ainda está dormindo?’
Tanto Eileen quanto seu pai precisavam de tempo para processar os acontecimentos de ontem. Com um último olhar para a porta dele, Eileen soltou um pequeno suspiro e foi para a cozinha.
— …?
Virou-se para a janela, achando ter ouvido um alvoroço lá fora. Com as cortinas fechadas, não podia verificar, e não tinha energia para mais uma surpresa. Então ignorou.
Primeiro bebeu um pouco de água para aliviar a garganta seca. Depois pegou um pão do armário e cortou uma fatia generosa. Então percebeu que não tinha mais nada para o café da manhã, pois estava ocupada demais nos últimos dias para ir às compras.
Sem querer passar fome, deu uma mordida no pão e mastigou devagar. Depois, cobriu o rosto com os óculos e a franja, pronta para ir ao mercado.
Quando abriu a porta com uma cesta grande na mão…
Eileen congelou, segurando a maçaneta.
— Ela finalmente saiu! Senhorita Elrod! Senhorita Elrod!
— Senhorita Eileen! Olhe aqui!
— Por favor, diga-nos qualquer coisa sobre seu casamento com Sua Excelência, o Grão-Duque Erzet!
— É verdade que você ameaçou se matar se o Duque não se casasse com você?
— Ei, não me empurre!
— Sai da frente! Eu cheguei primeiro!
Como se estivessem esperando a porta abrir, a multidão começou a gritar loucamente. Avançavam como abelhas, fazendo perguntas. Mas não podiam tocar em Eileen.
Toda a casa de tijolos estava cercada pelos soldados do Grão-Duque. Homens armados com rifles afastavam sem piedade os repórteres e curiosos que se aproximavam além de um certo limite.
‘O que está acontecendo?’
Mesmo vendo com os próprios olhos, Eileen não conseguia acreditar. Hesitando, ela deu um passo para trás, e os repórteres ficaram ainda mais agitados, tentando passar pelos soldados.
BANG!
Um tiro estourou no ar como um trovão. A multidão frenética, como demônios soltos, silenciou como se exorcizada. Em meio ao silêncio, uma voz grave cortou a tensão.
— Vocês todos podem calar a porra da boca de uma vez? 🥰
Michele, que disparou o tiro, arqueou uma sobrancelha e continuou:
— Nossa senhorita parece muito surpresa.
Continua…
Tradução Elisa Erzet