O Marido Malvado - Capítulo 11
— Ah!
Após terminar sua refeição, Eileen engoliu um copo de água e suspirou. Seu peito estava apertado.
Eileen estava cheia de medo e apreensão em relação a Cesare.
Desde aquela primeira tentativa de assassinato, ela encontrou a crueldade inerente de Cesare várias outras vezes. Apesar de suas tentativas de escondê-la, houve momentos em que sua verdadeira natureza inevitavelmente aparecia.
Cada vez, Eileen se via tremendo e com medo, muito parecido com o que tinha aos onze anos. No entanto, apesar do terror, ela não conseguia se obrigar a deixar Cesare. Eventualmente, até desenvolveu sentimentos por ele.
— O que mais posso fazer com alguém tão complexo?
Seu coração se encheu com a afeição de Cesare, e seu amor por ele só continuou a crescer. Não tinha sentido em negar.
— Eu sou uma idiota.
Murmurou para si enquanto arrumava a área de jantar. Quando seus olhos pousaram na porta do quarto no primeiro andar, se sentiu em conflito. O quarto que seu pai usava ainda estava vazio.
Ela continuou esperando pacientemente, sabendo que Cesare descobriria o paradeiro de seu pai. Isso não significava que os dias que passavam não a enchiam de inquietação.
Após lavar a louça, Eileen subiu as escadas para trocar de roupa para sair. Ela estava planejando visitar o distrito hoje e comprar um presente para Cesare.
No dia em que o Arco do Triunfo foi aprovado, Eileen planejou pegar o pedido personalizado para Cesare como um presente de congratulações por suas conquistas.
A própria pessoa em questão interrompeu o plano dela.
Ela teve que adiar devido a toda aquela loucura, e só hoje conseguiu pegar o presente.
‘Vossa Graça vai adorar!’
Enquanto caminhava pelo distrito comercial, Eileen avistou um jornaleiro. Ela tentou ignorá-lo. A notícia principal era, sem dúvida, a procissão triunfal e a bagunça no salão de banquetes.
O Império Traon consistia em ruas que se ramificavam em sete direções a partir de uma única praça central. Cada uma dessas ruas servia a um propósito diferente. Eileen optou pelo distrito de compras de alto padrão.
Em meio à rua movimentada cheia de carruagens, Eileen seguiu seu caminho a pé até que finalmente chegou ao seu objetivo. O sino tocou quando ela abriu a porta da loja
— Olá!
O destino de Eileen era uma relojoaria.
— Você chegou! Eu estava esperando ansiosamente. Venha, venha!
O lojista cumprimentou Eileen com alegria e correu com ela até o balcão. Luck, um negociante de relógios de luxo na Venue Street, ostentava um belo bigode e usava um monóculo, apresentando-se como um cavalheiro de aparência refinada.
Tendo sofrido de enxaquecas crônicas, Luck se tornou cliente regular de Eileen após comprar sua cura milagrosa feita de folhas de salgueiro. Ele ficou grato a ela e, portanto, naturalmente se esforçou para tornar este presente perfeito.
— Como você está? Trouxe mais remédios para você.
— Você não poderia ter vindo em melhor hora. Estou muito contente! Só um momento. Vou trazer o relógio para você.
Houve um brilho em seus olhos antes de desaparecer para o fundo de sua loja. Não demorou muito para ele trazer uma caixa de veludo vermelha. Eileen olhou para a caixa com o coração acelerado.
— Uau…!
Aninhado dentro da caixa estava um relógio de bolso de platina brilhantemente polido. Luck sorriu com orgulho diante do senso de admiração simples e honesto de Eileen.
— Como você ordenou, Eileen, prestei atenção especial a ele.
Eileen estendeu a mão cautelosamente. Ela se absteve de tocar no relógio para não deixar nenhuma impressão digital. Ela decidiu acariciar levemente a caixa.
Relógios de bolso de platina eram extremamente caros, mas Eileen sentiu-se compelida a presentear, o Grão-Duque, com nada além do melhor. Com a assistência atenciosa de Luck, ela conseguiu juntar os fundos necessários.
— Você quer que eu grave um nome nele?
— Não, acho que vou deixar como está. Obrigada.
Não que ela não estivesse considerando, mas causaria uma cena. Luck não sabia para quem era o presente. Ele nem sabia que Eileen era uma nobre.
— Fiz uma nova fórmula para a pomada. Trarei um pouco para você na próxima vez.
— Você não pode continuar dando coisas de graça. Eu vou pagar um preço justo na próxima vez. Agora me diga, como vai sua farmácia?
— Ah… Estou planejando fechá-lo por um tempo.
Os clientes normalmente visitavam Eileen na estalagem para comprar seus remédios. Agora que o Grão-Duque havia fechado seu laboratório, ela considerou abordar o estalajadeiro para discutir a venda de seus produtos em consignação.
🌸🌸🌸🌸
Ele primeiro discutiu sobre o presente, depois tranquilizou Eileen, dizendo que não precisava se preocupar com seus medicamentos. Conversaram por um tempo antes que se despedisse dela enquanto ela seguia para casa.
Ela estava de bom humor e ansiosamente planejou como entregar seu presente. Ela raciocinou que, como Diego viria em breve, poderia pedir a ele que entregasse o presente a Cesare em seu nome.
‘Ele provavelmente já tem muitos relógios. Mas quem sabe? Talvez precise de um para o dia a dia. Algo simples, que não se importaria de perder.’
Eileen não se enganava. Sua Graça era um homem muito rico, que podia ter tudo o que quisesse. Mesmo assim, esperava que ele apreciasse o gesto. Ela trabalhou duro para comprar o presente, considerando o quanto era caro. Ainda assim, sentiu uma satisfação em ter escolhido um presente adequado. Ao chegar em casa, percebeu-se cantarolando contente.
— …?
Havia um carro em frente à sua casa que ela nunca tinha visto antes. Não pertencia aos subordinados do Grão-Duque, que normalmente dirigiam veículos militares com o emblema do Exército Imperial. Eileen ficou desconfiada e examinou-o com atenção. Não havia nenhuma identificação, então ela descartou a ideia de que fosse o carro de algum soldado.
Passou por ele e entrou no jardim da frente, surpresa, parando de repente. Um estranho estava ali, olhando para suas laranjeiras.
Era um homem mais velho, grande e gordo.
‘Será que ele é, por acaso, um hóspede do meu pai?’
Ninguém vem aqui para ver Eileen, a não ser os soldados do Grão-Duque. A hipótese mais plausível era que ele estivesse procurando por seu pai.
Eileen se aproximou do homem com cautela, sem se esquecer de esconder discretamente o presente de Sua Graça atrás das costas.
— Olá, posso ajudá-lo?
No momento em que ela o cumprimentou, o homem não perdeu tempo e se virou. As pupilas nubladas de seus olhos voltados para baixo inspecionaram Eileen da cabeça aos pés. Era um olhar vazio e desagradável.
Eileen balançou a cabeça internamente e repreendeu a si mesma. Algumas pessoas não podem evitar sua aparência. Tirar conclusões precipitadas e julgá-lo imediatamente no primeiro encontro não era como ela havia sido criada.
— Eileen Elrod?
— Ah, sim! Sou eu. Você é amigo do meu pai?
Ela respondeu com um sorriso radiante. Afinal, independentemente dos olhos dele, o homem tinha uma expressão alegre. Não que isso não a deixasse desconfortável. Aquilo fazia com que ela quisesse fugir dali.
— Digamos que o Barão Elrod e eu temos uma longa história.
Eileen conseguiu detectar um sotaque exótico em sua fala. Provavelmente era um nobre estrangeiro.
Talvez seu pai tenha, mais uma vez, contraído dívidas que não poderia pagar? Isso era problemático. Ela já havia gasto todas as suas economias no relógio de bolso! Será que poderia cobrir os erros dele com o fundo de emergência que ainda lhe restava?
Ela não deixou que seus sentimentos conflituosos transparecessem em seu rosto. Ele ainda poderia ser amigo do seu pai, então continuou com gentileza.
— Lamento informar que meu pai não está no momento…
— É mesmo?
Embora ela tivesse anunciado a ausência do pai, ele não parecia disposto a ir embora. Vendo-o hesitar de forma constrangedora, Eileen relutantemente fez uma pergunta que não queria fazer.
— Gostaria de um chá?
— Se insiste.
O homem aceitou prontamente e seguiu Eileen para dentro da casa. Ela o acomodou na sala de estar antes de se desculpar e sair correndo escada acima.
Dadas as artimanhas de seu pai, parecia que seu amigo tinha realmente vindo cobrar sua dívida. Ela entregaria o que o homem pedisse, mas não desistiria daquele relógio.
Aquele era um presente para seu amado, para comemorar sua vitória histórica. Ela não perderia essa oportunidade. Escondeu a caixa no fundo do guarda-roupa antes de pegar um pequeno cofre debaixo da cama.
Verificou seu fundo de emergência e mordeu o lábio ao contar as moedas de prata. Não tinha ideia de quanto seu pai devia, mas esperava ter o suficiente para pagar os juros.
Após contar, voltou ao primeiro andar e encontrou o visitante mais uma vez admirando suas plantas. Desta vez, ele observava os lírios no vaso, que também pareciam fitar a laranjeira.
Seguiu para a cozinha, fazendo barulho enquanto preparava o chá. Ocasionalmente, sentia o olhar dele a encarando.
‘Por que fica me olhando?’
Apressou-se para terminar o chá, ainda aterrorizada com a possibilidade de ele perguntar sobre o dinheiro. Ao se virar, com a bandeja nas mãos…
— AAAAH!
Assustada, Eileen segurou a bandeja com toda a força. O homem estava bem à sua frente. Sentiu o coração saltar do peito.
Ele não era tão alto, então seus olhos se encontraram. De repente, ele esticou a mão e puxou a franja de Eileen, expondo seu rosto para inspeção.
Eileen sentiu-se como um veículo paralisado pelos faróis diante daquele gesto incrivelmente rude e perigoso. O homem mais velho não conseguiu evitar um riso.
— Exatamente como imaginei, você realmente tem olhos misteriosos.
Eileen não hesitou em recuar, mesmo tremendo, e deixou a bandeja de qualquer jeito.
— Por que está fazendo isso? Se é por causa do dinheiro—
— Acha que isso é sobre dinheiro?
O rosto do homem se contorceu em resposta.
— Sim, é sobre dinheiro. Meu dinheiro, para ser exato, Lady Elrod. E tenho muito a dizer sobre isso.
A cada palavra, sua voz ficava mais alta até ecoar na última frase. Eileen eriçou-se como um pássaro em posição de desafio.
— O Barão Elrod prometeu vender um item para mim. Ele assinou o contrato e até recebeu o pagamento adiantado. Só faltava entregar a mercadoria para quitar sua dívida. Imagine minha surpresa ao descobrir que o Barão desapareceu.
Suas palavras soavam ameaçadoras, e ela não conseguia dissipar os pensamentos negativos que giravam em sua cabeça. Perguntou antes mesmo de pensar, como se em transe:
— E o que ele decidiu vender?
O homem sorriu diante da pergunta simples, e ela sentiu-se como se tivesse sido jogada em água gelada. Desesperadamente, rezou para estar errada, mas seu sorriso de tubarão esmagou sua alma.
Continua….
Tradução Elisa Erzet