Meu Amado Opressor - Capítulo 22
Capítulo 22
Annette assentiu com a cabeça. Como seu pai disse, criminosos sempre dizem que não cometeram crimes.
Tendo chegado à conclusão de que não era grande coisa, ela ficou na frente dos pais e do fotógrafo. Um sorriso feliz estava estampado em seu rosto.
“Estou tirando as fotos! Um, dois, três.”
A velocidade do obturador era lenta, então Annette teve que permanecer parada por um bom tempo. Enquanto ela estava derramando seu coração e alma em um lindo sorriso, a comoção que havia ocorrido em frente à sala de concertos desapareceu de sua mente.
“Mãe, vou descansar um minuto. Minha cabeça está doendo por causa do cheiro das flores.”
“O reitor deve chegar logo. Volte rápido.”
Annette foi até a janela para recuperar o fôlego por um momento enquanto a multidão que enchia a área ao redor diminuía gradualmente. Seu coração batia forte devido à tensão que não havia diminuído e à excitação que sentiu imediatamente após a apresentação.
Annette soltou um longo suspiro e tocou a vidraça. Enquanto ela casualmente olhava para fora sem pensar muito, algo chamou sua atenção.
Em frente à porta da sala de concertos, dois homens fortes lutavam para arrastar uma mulher para fora. A mulher de cabelos castanhos estava agarrada a um poste de luz, sem vontade de se mover.
Parecia ser a comoção que seu pai havia mencionado. Annette estudou a mulher com uma leve carranca. Da janela do segundo andar, ela podia ver a situação na entrada bem de perto.
“….!”
O som do grito podia ser ouvido mesmo através das janelas fechadas. Após vários empurrões, um dos braços da mulher caiu do poste.
Não foi difícil puxá-la para longe, pois havia perdido suas forças. Então, a mulher cujos braços haviam sido agarrados foi arrastada para fora.
Ela lutou e resistiu até o fim. Seu rosto, queimado de raiva, arrependimento e desespero, virou-se para a janela do segundo andar. Annette involuntariamente deu um passo para trás.
Ah, esse rosto.
Uma sensação de horror e desconforto, por razões desconhecidas, subiu por suas pernas. Era como se ela tivesse visto o fundo da raça humana. Annette sacudiu a pós-imagem com miséria.
De repente, alguém agarrou Annette pelo ombro. Assustada, ela se virou.
“Ah!”
Ansgar estava sorrindo enquanto erguia as mãos em sinal de rendição. Seus olhos estavam semicerrados enquanto ele falava provocativamente.
“O quê, por que você está tão surpreso? Você estava tendo pensamentos estranhos?”
“Pensamentos estranhos…! É porque você me pegou tão de repente.”
“Desculpe, desculpe. A propósito, por que o personagem principal está aqui em vez de se misturar?”
“Ah, acabei de ver uma comoção lá fora.”
“Comoção? O que aconteceu? Não é grande coisa, é?”
“Não, apenas uma pessoa que ficou descontente com o julgamento…”
Annette olhou para trás, esticando suas palavras. A mulher já tinha sido levada embora. Estava tranquilo lá fora por algum tempo.
Annette virou a cabeça novamente e disse monotonamente.
“…Eles estavam fazendo um alvoroço.”
***
A mulher em sua memória e o rosto inexpressivo à sua frente se sobrepuseram.
Annette abaixou lentamente a mão que cobria sua boca. Sua garganta estava apertada. Ela estendeu a mão para sua xícara de chá, mas ela tremia tanto que fazia um barulho alto de chocalho.
“Meu irmão foi baleado na manhã seguinte. Não houve apelação. Porque não era um julgamento em primeiro lugar.” [C]
Annette mal se saciou e não tinha gosto de nada.
“Quando ouvi a notícia da queda da família real, tive grandes esperanças. Eu esperava que o homem se desculpasse adequadamente e recebesse a punição apropriada. Mas na manhã seguinte a notícia da morte do Marquês estava no jornal… Ele foi morto imediatamente após um tiro das tropas revolucionárias em sua mansão—bem, foi assim que terminou. Sem uma palavra de desculpas.” [C] (*Lembre-se, Catherine tem dois irmãos, James, que morreu naquela época, e David, que atirou em Annette)
Quanto mais Catherine continuava a falar, mais enojada ficava a face de Annette. Era uma face emocional que parecia rachar quando tocada.
Annette lutou para engolir um gemido. Em algum lugar em sua cabeça, ela podia ouvir seus ouvidos zumbindo e a voz de Catherine se sobrepondo.
“Não estou pedindo clemência ou acordo. Sei que há situações em que a violência é a única linguagem, mas esta não foi uma dessas situações. Meu irmão cometeu coisas terríveis contra a madame. Não tenho nada a dizer sobre esse ponto. Meu irmão deve ser punido.” [C]
“…”
“Mas eu só—eu queria te contar uma vez. Eu queria que você soubesse como meu outro irmão morreu.” [C]
Catherine abaixou o olhar por um momento e então olhou para Annette. Sua voz seca fluiu calmamente.
“Ignorância é pecado? Posso realmente culpá-la por isso? Ainda não consegui encontrar uma resposta. Talvez eu nunca encontre a resposta. Então não estou dizendo isso porque acho que a madame é culpada.” [C]
“….”
“Isto é tudo o que tenho a dizer. Não tenho sentimentos mais pessoais do que estes. Expresso meus sinceros arrependimentos pelo que aconteceu com você. Por favor, aceite meus melhores desejos para uma rápida recuperação de seu corpo e mente. ……Então.”
Catherine se levantou após uma curta reverência silenciosa. O barulho dos seus sapatos ecoou pelo chão. Annette ainda não estava respirando.
“Annette!”
Por que ela teve que ouvir essa história?
“Temos que fugir!”
Por que ela fez isso?
“Temos que correr, agora!”
Por que ela estava contando essa história…?
Catherine chegou à porta e agarrou a maçaneta. O metal frio sentiu em sua pele. No momento em que ela tentou girar a maçaneta.
“Sinto muito. ……” (A)
Os movimentos de Catherine pararam diante das palavras fracamente ditas.
“Desculpe……….” (A)
Sua voz embargada quebrou em um murmúrio. Annette parou de falar por um momento e abaixou a cabeça. Os nós dos dedos dela ficaram brancos enquanto ela agarrava a bainha da saia.
“Sinto muito mesmo. ……….” (A)
Lágrimas caídas deixaram marcas molhadas em seu vestido.
“Sinto muito. ……” (A)
Annette repetiu as palavras em meio às lágrimas. Ela não sabia mais o que dizer. Tudo o que ela conseguia fazer era repetir o pedido de desculpas como uma máquina com defeito.
“Sinto muito, sinto muito. Sinto muito, sinto muito. ……” (A)
Catherine virou a cabeça e olhou para Annette. Seu rosto estava aparentemente entorpecido, mas havia uma velha tristeza pairando sobre ele.
“…… Eu vejo.”
Catherine murmurou baixinho enquanto os soluços de Annette diminuíam lentamente.
“Eu queria ouvir isso de alguém.” [C]
***
Certa vez, ela contou a Heiner.
“Todos os jornais estavam dizendo que todos os resquícios da ditadura deveriam ser destruídos. Não tenho certeza de qual parte de mim deve ser destruída, mas você pode fazer isso se desejar.”
Essas foram apenas palavras de resignação. Ela não disse isso porque realmente as entendia, se sentia culpada ou queria se desculpar.
Em retrospecto, ela nunca tentou entendê-los. Ela nunca pensou que deveria entendê-los.
Tem que haver um ponto em comum na vida para que as pessoas entendam as outras.
Annette não via tal ponto em sua vida com as forças revolucionárias. Embora ela estivesse atualmente envolvida com elas, não era do tipo “compartilhado” porque era algo que ela não sabia.
“Houve seu concerto de piano naquele dia.”
Mas no ponto completamente oposto, eles compartilharam um momento em suas vidas.
Annette ainda não entendia a vida de Catherine. Ela não ousava nem dizer que entendia. Era arrogância e decepção.
Um nobre com linhagem real e um plebeu.
Uma mulher muito instruída sonhava em se tornar pianista e vendedora de frutas no mercado.
A família de um comandante militar que capturou e executou tropas revolucionárias.
Mesmo que tentasse juntar os pedaços do passado pelo resto da vida, Annette nunca seria capaz de entendê-los todos.
Era um fato imutável, divergente das pegadas já vividas.
A única razão pela qual ela estava disposta a ouvir sua história era para encarar o passado.
Conhecer e julgar.
Para entender.
Mesmo que isso a machucasse…
Um manto de nuvens se dissipou, revelando o sol da tarde e iluminando a sala.
Talvez lá no fundo, ela soubesse. Que no momento em que ela os entendesse, mesmo que um pouco, não havia realmente nada que pudesse ser desfeito.
Annette chorou por um longo tempo no quarto vazio.
***
Annette separou seus pertences e tirou os livros de contas e documentos do cofre. Eram documentos relacionados a doações e patrocínios de organizações cívicas.
Ela preparou as demonstrações financeiras finais e então as organizou para fácil visualização pela pessoa responsável. O trabalho foi logo concluído, pois vinha sendo preparado firmemente por um bom tempo.
Annette pegou uma folha de papel e escreveu uma carta de misericórdia para David Buckel.
Então, bem na hora de Heiner sair para o trabalho, ela foi ao escritório dele.
Embora já tivesse passado um pouco do seu horário de trabalho, Heiner ainda estava trabalhando. Quando Annette entrou em seu escritório, Heiner notou seus passos e levantou a cabeça.
“…… senhora.”
Ele estava diferente de como normalmente não tirava os olhos dos papéis, mas Annette não se preocupou em pensar muito sobre isso.
Ela se aproximou da mesa e estendeu um pedaço de papel. A testa de Heiner franziu.
“O que é?”
“É uma carta de misericórdia.”
“Por que você escreveu isso?”
“Porque é meu direito.”
“Você não precisa escrever. O que Catherine disse para você?”
“Heiner, esse é meu direito.”
“…”
“A escolha é minha.”