A Indulgência da Besta - Capítulo 06
Ao amanhecer, o grupo de Ovella partiu em direção ao castelo do lorde, e, após se despedirem deles, os Cavaleiros Sagrados finalizaram as compras de suprimentos em uma vila próxima e estavam prontos para retornar.
— Você tem certeza de que vai ficar bem?
Os líderes do esquadrão olharam para Louise com preocupação.
Eles não conseguiam esconder a inquietação com sua decisão de ficar para trás e retornar com Licht. Chegaram até a informar sobre Ovella, temendo que tentasse algo malicioso.
Louise se perguntou brevemente qual seria a expressão de Ovella ao perceber que era vista como uma vilã entre os Cavaleiros Sagrados.
— Não seria melhor pelo menos um de nós ficar com você?
Phillip levantou a mão discretamente, se voluntariando, mas Louise balançou a cabeça.
— Apenas cuidem de vocês.
Embora tivessem escolhido um caminho relativamente seguro para o retorno, comparado ao trajeto de ida, nada era certo nesses tempos. Se fossem discutir a probabilidade de um retorno seguro, Louise tinha mais chances de retornar ilesa, mas não podia se dar ao luxo de reduzir a força dos Cavaleiros Sagrados em um único membro.
— Entreguem uma carta ao comandante.
— Sim, entendido. Explicaremos bem a situação. Confie em nós.
Phillip, que assumiria como líder interino na ausência de Louise, bateu no peito em sinal de segurança.
— Certo. Se precisar fazer um relatório, deixo com vocês.
— Ugh… isso já é demais…
— Você pode preparar com antecedência também.
Dando um tapinha nas costas de Phillip enquanto ele resmungava, Louise se despediu deles.
Eles sabiam que precisavam se apressar se quisessem alcançar a próxima vila antes do anoitecer e, após olharem para trás algumas vezes, logo desapareceram de vista.
Com um tempo livre inesperado, Louise passeou tranquilamente pela vila, onde ficará por pelo menos um a três dias.
Os aldeões que a reconheceram como uma Paladina olharam para ela com simpatia. Era raro um Cavaleiro Sagrado ou um sacerdote permanecer em uma vila tão pequena. Como a segurança era incerta, sempre havia o risco de a guerra eclodir e reduzir tudo a cinzas.
Era natural que as pessoas desejassem segurança acima de tudo. A necessidade do poder divino era generalizada.
Ciente disso, Louise ajudou a vila de forma simples, usando seu poder sagrado para purificar áreas instáveis ou auxiliar na reparação de cercas.
Seria ótimo se ela pudesse ajudar os doentes da vila, mas Louise não tinha talento algum para cura. Entretanto, suas habilidades de regeneração eram frequentemente consideradas monstruosas.
Seus companheiros casualmente brincavam que poderiam vender o sangue dela como remédio, e Louise às vezes considerava isso seriamente — especialmente quando sacerdotes não chegavam a tempo de tratar seus ferimentos graves.
Se fizesse isso, porém, seria rotulada como herege e expulsa.
Em tempos como esses, ser expulso da igreja era praticamente uma sentença de morte.
Nenhum reino aceitaria alguém rotulado como herege, e entrar nos territórios dos clãs Rugaru ou Melbeth, que tratavam humanos como gado, também não era uma opção.
Após ajudar uma criança que tropeçara enquanto corria, Louise usou seu poder sagrado no joelho ralado e sangrando. Embora só pudesse desinfectar o ferimento, as crianças paravam geralmente de chorar após esse pequeno gesto.
— Obrigado!
Com suas habilidades físicas e regeneração superando seu poder divino, Louise às vezes se perguntava se havia escolhido o caminho certo. Mas momentos como aquele lhe traziam uma sensação de realização. Afinal, o poder divino era bastante útil.
Observando a criança correr com as bochechas coradas, Louise foi até o local onde passaria a noite. Embora sentisse olhares a seguindo, não se incomodou em reconhecê-los. Já havia feito tudo que podia pela vila naquele dia.
A cabana velha e deteriorada onde planejava dormir ficava longe da vila, além da cerca. O chefe da vila a preparara para ela.
Se ela pedisse, eles com prazer cederiam a casa mais limpa e resistente. Mas Louise não planejava dormir naquela noite.
Ela não pretendia se esconder, então qualquer visitante com assuntos inacabados a tratar teria que vir até ali — naquele local isolado onde não haveria testemunhas.
Me pergunto de que lado vai aparecer.
Enquanto molhava pão de centeio no ensopado feito com carne seca, Louise se lembrou do olhar de Ovella naquela manhã.
Estava cheio de ódio, como se ela pudesse fazer algo imprudente a qualquer momento — uma reação à provocação do dia anterior.
Como Paladina serva do divino, ela deveria despertar a bondade nas pessoas, não a malícia…
Espero que ela corresponda às minhas expectativas.
Louise gostava de conduzir seus inimigos para armadilhas, apenas para pular dentro delas e despedaçá-los. O comentário do comandante de que ela era uma caçadora nata não estava errado. Ela apenas escondia esse lado por trás do uniforme de Paladina, que simbolizava a luz divina.
Após terminar a refeição e limpar tudo, Louise apagou o fogo que havia acendido.
Era hora de atrair o inimigo.
🌸🌸🌸🌸
Embora Louise fosse alta para uma mulher, não se comparava à estatura média de um Paladino.
Com um rosto bonito e uma figura que ressaltava sua feminilidade, qualquer um que não a tivesse visto em batalha a subestimaria facilmente.
Louise nunca hesitava em usar isso a seu favor—a menos que enfrentasse um monstro sem mente.
Claro, aqueles com inteligência sabiam que ninguém conquistava o posto de vice-capitã de um dos grupos militares mais elite do continente apenas exibindo sua aparência. Mas tais pessoas raramente se envolviam em esquemas obscuros como este.
Os peões enviados para serem descartados geralmente não eram tão espertos quanto seus mestres.
E foi por isso que falharam em simplesmente matar uma mulher desarmada deitada em uma cama de palha.
— Ugh!
Louise neutralizou o primeiro homem — que se aproximava ofegante — com um golpe de joelho nas partes íntimas, depois saltou rapidamente em direção ao próximo alvo.
Em movimento, arremessou sua bainha contra o terceiro homem que estava na porta, nocauteando-o.
Sabendo que seria ineficiente nocautear todos, cortou o tendão do tornozelo do homem que cambaleava em sua direção, impedindo-o de fugir, e saiu do casebre.
Ela sentira sete atacantes. Com os três que já lidara, restavam quatro.
— Cerquem ela!
Eles rapidamente entenderam a situação e avançaram de todas as direções. Estes eram mais fortes que os três já derrotados.
Dois deles devem ser cavaleiros.
Cavaleiros capazes de usar aura, úteis para matar monstros, eram muito valiosos. Para a família do Conde Henril tratá-los como descartáveis assim era surpreendente.
Ou talvez eliminar Louise fosse considerado importante o suficiente.
Ótimo. Se são cavaleiros, talvez consiga informações valiosas durante o interrogatório.
Louise observou atentamente os homens que cobriram o rosto com panos pretos para esconder suas identidades. Como esperado, nenhum era familiar. Provavelmente foram escolhidos porque nunca a terem visto antes—caso a missão falhasse.
Não que importasse—eles revelariam todos os segredos uma vez capturados.
Aparentemente, ninguém lhes dissera que líderes de esquadrão dos Cavaleiros Sagrados precisavam ter pelo menos uma habilidade adequada para interrogatório, especialmente em seus esforços para erradicar heresias.
Enfrentar cavaleiros sem armadura para evitar serem notados exigia mais cuidado. Um erro de cálculo podia matá-los em vez de capturá-los vivos.
Assim, Louise fingiu fugir, rompendo o cerco e mirando primeiro nos que não eram cavaleiros.
— Ugh…!
Ela esmagou o queixo de um homem com um chute e atingiu o abdômen de outro com o ombro.
Momentos depois, a espada de um cavaleiro passou lentamente acima de sua cabeça. Desviando intencionalmente no último segundo, perdeu apenas alguns fios de cabelo.
Quando o cavaleiro recuou a espada, ela agarrou a lâmina e enviou uma onda de aura de volta, fazendo o cavaleiro gemer de dor e soltar a arma. Seus órgãos internos provavelmente foram perturbados, deixando-o imóvel por algum tempo.
Só resta mais um.
Louise se virou lentamente para encarar o último cavaleiro.
Os olhos dele tremiam violentamente. Se ainda não havia percebido que algo estava errado, era um tolo.
Felizmente, seu raciocínio parecia intacto. Não tentou fugir nem atacar.
— Não matei nenhum deles. Outros podem me dar as informações que preciso, se você não quiser.
Louise bateu levemente com a espada sobre a cabeça de um dos atacantes caídos.
— Se quer provar seu valor, largue suas armas nos próximos três segundos.
Aparentemente rápido em pensar, o cavaleiro descartou sua espada, bainha e três adagas antes mesmo de ela terminar de contar.
Continua…
Tradução Elisa Erzet