Vivian - Capítulo 11
Vivian, que caminhava olhando apenas para as costas dele, percebeu algo estranho.
— Não há guardas aqui?
O corredor estava calmo e vazio. Vivian nunca viu um espaço sem guardas, já que frequentava o palácio por diversos motivos. De alguma forma, sempre marcavam presença por todos os cantos, mas aqui pareciam inexistentes.
Os ombros de Roger tremeram de repente. À primeira vista, parecia uma risada.
— Este é o palácio usado pelos Cavaleiros.
Há tantos cavaleiros melhores do que os guardas… quem protegeria quem?
Vivian entendeu o que ele quis dizer sem dificuldade e, ao mesmo tempo, percebeu o quão ridícula tinha sido sua pergunta.
O silêncio entre eles foi cortante, como se tivesse sido partido por uma faca. Claro, foi Vivian quem quebrou o gelo primeiro. Ele continuou andando com naturalidade, como se não sentisse o peso no ar.
Vivian manteve os olhos fixos nas costas largas dele. Seu corpo estava claramente coberto por um uniforme preto, mas, por algum motivo, ela continuava vendo a pele nua dele em sua mente.
Talvez fosse porque ele apareceu em seu sonho na noite passada.
‘Estou sonhando ou algo assim?’
Não tinha certeza. Vivian desviou os olhos, perdida em pensamentos, e repassou tudo que lhe acontecera nos últimos dias:
Voltar para seu país natal, Mosbana.
A Ordem dos Cavaleiros.
E…
— Está tudo bem você ficar noivo de mim?
As palavras escaparam antes que ela percebesse o que estava dizendo.
— Me desculpa, não estamos noivos… é só encenação.
Roger parou de repente, como se tivesse sido forçado a interromper seus passos. Se virou lentamente e falou com suavidade — um gesto incompatível com sua personalidade violenta.
— Senhorita…
— O quê foi?
— Você se importa em fingir que é minha noiva?
A pergunta era simples, mas a profundidade do olhar dele era tão intensa que fez a mente de Vivian vacilar por um momento. Era como se estivesse sendo testada à beira de um abismo.
Vivian sorriu, passando a mão pelo pescoço, sem perceber que estava suando.
— Por mim está tudo bem. Eu já concordei.
Ele sorriu vagamente.
Quando o sorriso parecia desaparecer, ele diminuiu a distância e se aproximou dela. A luz que entrava pela janela era forte, mas ela não conseguia desviar o olhar. A presença do homem à sua frente era avassaladora.
— Então, por mim também está tudo bem.
A voz dele parecia aliviada. Como se estivesse esperando a confirmação de Vivian.
Após dizer o que precisava, Roger se virou e voltou a andar. Vivian o seguiu em silêncio. A única mudança foi que o ritmo dele agora estava um pouco mais lento.
— Quando partiremos para o Oeste?
— Em cerca de duas semanas.
— Mais cedo do que pensei.
No fim da conversa truncada, uma grande porta surgiu à frente. Era luxuosa — o tipo de construção onde cada detalhe parecia ter sido entalhado cuidadosamente em madeira. Talvez o carpinteiro fosse talentoso e jamais imaginaria que a Ordem dos Cavaleiros usaria aquele local.
Roger olhou para Vivian antes de colocar a mão sobre a porta.
— Muitos cavaleiros estão em missão, então não será possível apresentar toda a Ordem hoje.
— Ah, sim.
— Apresentarei apenas o vice-capitão.
O homem que, em seus sonhos, usava linguagem informal, agora falava com formalidade. Estranhamente diferente, sutilmente o mesmo. Vivian assentiu, com pensamentos difíceis de descrever.
Roger estava prestes a abrir a porta, mas hesitou novamente.
Logo depois, contraiu os lábios com uma expressão confusa. O espaço entre suas sobrancelhas estava tenso.
— Sabe… muitos cavaleiros se esforçaram muito para participar desta missão. Então…
Vivian assentiu, sem entender completamente o que ele queria dizer. Roger também parou de falar, como se não soubesse como continuar. Ou como se fosse difícil dizer aquilo.
Ele suspirou profundamente.
— Não sou bom em rodeios, então vou ser direto. Alguns cavaleiros não aprovam sua participação nesta missão no Oeste.
Roger foi direto, com um olhar firme. Vivian entendeu por que ele mencionou isso agora.
— Deve ser o vice-capitão.
Ela deduziu, já que ele estava falando disso justamente antes da apresentação.
— São três ao todo. Ele é um deles.
De repente, Vivian lembrou da Condessa, que havia levantado a voz preocupada com ela.
Mas, para Vivian, aquilo não era novidade.
Ela já havia sido ignorada muitas vezes por não ter a aparência intimidadora de um cavaleiro —sem espadas na cintura ou uniformes imponentes.
Provavelmente, o cavaleiro que Roger mencionara a via como uma nobre imatura. Ela já estava nervosa, mas forçou um sorriso.
— Eu vou me comportar.
Roger observou seu rosto pálido, como se estivesse avaliando seu humor. Se alguém os visse, poderia pensar que ele era um cão raivoso diante dela.
Mas ao ver que Vivian mantinha a expressão estável, ele abriu a porta.
As duas metades da grande porta se separaram. Talvez por conta da má reputação da Ordem, a entrada parecia mais a abertura de um abismo do que uma simples passagem.
Vivian tentou se recompor, afastando pensamentos inúteis.
Mas, ao contrário do corredor iluminado e sereno, o interior era escuro.
Uma mesa organizada com alguns papéis. Uma estante enorme perto de uma janela com luz fraca. Era um espaço que lembrava um escritório.
Roger entrou primeiro. Vivian o seguiu.
Três homens que conversavam entre si se viraram ao mesmo tempo. Ao reconhecer Roger, ajeitaram a postura em uma saudação formal.
Roger os examinou, depois olhou para trás. Vivian entendeu o sinal e saiu de trás dele.
Seu sorriso era rígido, marcando que aquela era sua primeira vez ali.
— Muito prazer, meu nome é Vivian Lector.
Ela sabia que havia um cavaleiro hostil, mas decidiu causar uma boa primeira impressão. Um dos cavaleiros, que estava no centro, deu um passo à frente antes mesmo de ser apresentado.
Vivian se surpreendeu um pouco, mas antes que pudesse reagir, ele a abordou diretamente.
— Você é mesmo uma elementalista?
— O quê? Ah, sim, sou.
— Uau, que incrível. Nunca vi uma antes. 🥰🥰
Era um homem que lembrava um gato. As pupilas castanhas brilhavam de curiosidade. Ele encarou Vivian como se visse algo extraordinário.
Antes que o olhar do homem se tornasse incômodo, uma mão interveio.
— Tainy. Isso não é educado.
Roger o interrompeu com firmeza. Ao ver a mão grande de Roger, — Tainy, o cavaleiro felino recuou. Ele fez uma reverência exagerada com um sorriso brincalhão.
— Perdão, minha senhora. É que nunca conheci uma elementalista e fiquei muito curioso. 🐶
Ele era descontraído, mas astuto. Vivian conseguiu relaxar. Ele parecia mais amigável do que esperava.
— Da esquerda para a direita: Enka, Tainy e Ben.
Depois que Tainy recuou, Roger apresentou cada um. Vivian prestou atenção, tentando memorizar os nomes.
Ao olhar para o dono do último nome, Vivian encontrou os olhos do cavaleiro que a encarava com reprovação. Roger o apresentou como Ben.
Ben entreabriu a boca com desdém quando seus olhares se cruzaram.
— Então você é a Lady Lector?
Vivian teve um pressentimento. Aquele cavaleiro tinha uma má impressão dela.
— Sim, isso mesmo.
Ela respondeu com um sorriso.
Ben, com os braços cruzados, a observava com ar de desdém — um gesto de arrogância, além de rude.
— Você sabe como capturar uma besta demoníaca?
A pergunta foi direta e seca. Era algo que Vivian esperava.
— Não, eu não sei…
Ben estalou a língua antes que ela terminasse de responder. Era óbvio que ele não era amigável.
— Ben, já chega.
Ao lado de Vivian, Roger olhou para ele, e Enka sussurrou um aviso.
Mas Ben ignorou:
— Você sabe ao menos o que nossa Ordem vai fazer no Oeste?
— Vão lutar contra as bestas demoníacas, certo?
Para quem não conhecia a situação, parecia que Ben estava apenas provocando Vivian. Ele franzia a testa, ela mantinha o sorriso. Era como uma lança contra um escudo.
Vivian esperava que Roger interviesse, mas, estranhamente, ele permaneceu imóvel, encostado na mesa, como uma estátua.
‘Se seu subordinado age assim, você não deveria interferir?’
Ben claramente estava desafiando Vivian. Mas Roger, que antes a ajudara até mesmo durante o banquete e impediu Tainy de se aproximar, apenas observava.
‘Você me ajudou tão bem no banquete… Por que não faz nada agora?’
— Não estamos indo passear.
Ben acrescentou, num tom cortante.
Era evidente que ele duvidava das habilidades de Vivian. Parecia o tipo de pessoa que só acreditava vendo com os próprios olhos.
‘É assim que ele é?’ Vivian suspirou, frustrada.
— Tenho uma pergunta.
Ela olhou para Enka, que não parecia hostil.
— Este palácio é conectado ao solo?
— O quê?
Enka pareceu confuso, como se não compreendesse a pergunta.
— Quero dizer… há um porão? Ou está diretamente sobre a terra?
— É uma estrutura feita de um único nível.
Isso significava que estava conectado diretamente com a terra. Vivian sorriu, satisfeita com a resposta.
Continua…
Tradução: Elisa Erzet