O Marido Malvado - Capítulo 30
Ele parou na entrada, uma figura imponente em um fraque azul-marinho. Os regulamentos militares exigiam uniformes dentro dos muros do palácio – um decreto que o próprio Cesare implementou para fortalecer a imagem do exército. Seus sucessos no campo de batalha haviam aumentado o recrutamento, prova de que a estratégia funcionara. No entanto, ali estava ele, um símbolo do Império, sem uniforme. Então essa não era uma visita oficial.
Talvez isso não estivesse na agenda do Grão-Duque hoje…
Eileen o encarou sem reação. Cesare a observou enquanto entrava lentamente. Parou perto do sofá, íris vermelhas fixos nela.
— Hoje você não vai negar isso?
Eileen piscou, confusa, sem entender a pergunta. Ele completou com um leve sorrisinho de canto:
— Não vai dizer que ainda não sou seu marido?
Seu rosto corou diante do uso tão casual da palavra “marido”. Mas a vergonha era só dela.
Cesare sentou ao seu lado, a intimidade inesperada, como se houvesse um acordo tácito entre eles. Seu braço, descansando casualmente no encosto do sofá, roçou levemente seu ombro. Eileen estremeceu, o toque parecia uma faísca sobre um nervo exposto. Era a primeira vez que o via desde o encontro confuso que tiveram, mas, banhado pela luz do sol do meio-dia, ele parecia o mesmo, a personificação de uma beleza inatingível. Era difícil acreditar que ele é o mesmo homem de suas lembranças tão escandalosas.
— Ah, fui descoberto rápido demais. 😒
Leone soltou uma gargalhada calorosa. Balançou a cabeça, resignado, depois inclinou-a de lado de forma brincalhona e perguntou:
— O senhor Lotan continua vivo?
— Bem, isso depende de como você vai responder a partir de agora, irmão. 🥰
A resposta de Cesare, carregada de uma frieza cortante, soou mais como uma ameaça do que uma piada. Leone, com a testa franzida, serviu-lhe uma xícara de chá ele mesmo, murmurando algo que denotava desconforto. Eileen, percebendo o jogo de chá preparado para três, entendeu, com um sobressalto, que o imperador esperava a visita do irmão. Mesmo assim, Cesare ignorou sua própria xícara e pegou a de Eileen. Com movimentos precisos, jogou fora o chá morno, encheu a novamente e adicionou açúcar e leite – preparando exatamente como ela gostava. 🥰🥰
Colocou a xícara, agora cheia de chá cremoso, à frente de Eileen. Então, com um movimento hábil, espetou um muffin e o ofereceu a ela. Eileen, surpresa, hesitou. Mas Cesare não estava olhando para ela. Seu olhar permanecia fixo em Leone, um desafio queimando em seus olhos. Ele despejou uma generosa dose de conhaque em sua própria xícara e finalmente falou:
— Por que você chamou a Eileen?
— Tenho perguntas a fazer.
— Há algo que precise perguntar a ela e não a mim?
— Posso dizer o mesmo de você.
Com um tilintar proposital, Leone colocou a xícara com força. O Imperador, tendo quebrado a etiqueta de propósito, olhou com calma para o irmão.
— Ela parece não saber de nada. 😒😒
Eileen, segurando o garfo com o muffin, piscou sem entender. Cesare percebeu que ela ainda não tinha tocado nem no bolinho ou no chá, fez um leve gesto com o queixo em direção à comida. Instintivamente, Eileen abriu a boca e deu uma mordida. Após mastigar e engolir, o homem gesticulou em direção à xícara. Eileen a pegou rapidamente e bebeu. Diferente de antes, o chá estava doce e suave, escorrendo fácil pela garganta.
A qualidade das folhas de chá do palácio era excepcional, tornando até a doçura refinada. Por um momento, Eileen se deixou levar pelo sabor, mas logo retomou a atenção à situação.
Foi então que Cesare virou-se subitamente para ela.
— …!
Eileen prendeu a respiração. A proximidade repentina trouxe com ele um aroma fresco, como o de uma floresta banhada pelo orvalho da manhã — frio, mas revigorante. Uma mão enluvada de couro preto tocou seus lábios, limpando naturalmente as migalhas do muffin. E então, ele se recostou. O rosto dela queimava, um rubor subindo pelo pescoço. O homem parecia alheio a isso, tomou um gole de chá com tranquilidade. Enquanto isso, Eileen sentia-se como um ornamento frágil, prestes a se despedaçar ao menor toque.
— Meu Deus… você…
Testemunhando a cena, Leone riu com um misto de incredulidade e resignação. Cesare apenas arqueou uma sobrancelha em resposta.
— Me desculpa, eu cometi um erro.
Leone murmurou, perplexo, e olhou para Eileen, ainda corada, se desculpando formalmente.
— Peço desculpas se te assustei, senhorita Elrod. Eu apenas desejava conhecê-la melhor. 😒
— O-obrigada.
Pega de surpresa, Eileen agradeceu, o que fez Leone rir novamente. Era difícil entender o que ele achava tão engraçado.
— Podemos conversar um pouco?
Diante do pedido do imperador, Cesare olhou para Eileen. Leone rapidamente acrescentou:
— Senhorita Eileen, me permita te mostrar o meu jardim privado.
Eileen acenou com entusiasmo a sugestão, grata por qualquer chance de sair daquele ambiente tenso. Percebendo que poderia estar sendo indelicada, ela acrescentou:
— Perdão.
Leone riu mais uma vez.
— Dê uma olhada rápida.
Cesare acompanhou Eileen até a porta da sala de conferência e sussurrou:
— Da próxima vez, não deixe seu marido para trás.
Ele acariciou suavemente sua bochecha antes de deixá-la ir. Finalmente livre da sala sufocante, Eileen soltou um suspiro profundo. Um lacaio esperava do lado de fora e curvou-se respeitosamente.
— Me permita levá-la até o jardim.
Eileen seguiu o homem, passando pelo corredor contrário por onde havia vindo. O pátio central estava repleto de flores e árvores raras, que chamaram sua atenção, então um cheiro forte invadiu suas narinas – o odor de tabaco.
‘Quem estaria fumando no palácio do imperador?’
Curiosa, Eileen olhou ao redor, tentando localizar a origem do cheiro.
O lacaio parou subitamente e inclinou a cabeça. Eileen, que caminhava atrás dele, espiou para ver o que causara a interrupção.
— …!
Um suspiro escapou de seus lábios. Uma mulher de beleza deslumbrante estava na entrada. Seus cabelos platinados brilhavam como prata, emoldurando olhos da cor das folhas mais claras da primavera. Sua pele, impecável e translúcida, cobria ombros delicados que pareciam pedir proteção. Só poderia ser uma pessoa na capital – a mulher cuja beleza etérea estampara inúmeras capas de revista.
Com sua aparência pura e inocente, ela é a flor orgulhosa do Império. O apelido “O Lírio de Traon” é verdadeiramente adequado para ela.
Era Ornella von Farbellini, a filha deslumbrantemente bela do Duque Farbellini e, mais importante, a noiva do Imperador Leone. Um ar de ambiguidade pairava sobre o noivado prolongado, com rumores circulando pela corte. Quando ele era apenas um príncipe sem influência, nenhuma família nobre arriscava oferecer suas filhas.
Quando Leone se tornou Imperador, Ornella expressou o desejo de unir sua família à Casa Imperial. Como o poder do trono ainda era instável, o Duque Farbellini se opôs veementemente. Ele não queria sua única filha em um caminho perigoso. No entanto, Ornella insistiu tanto que ele relutantemente iniciou negociações com a família imperial.
Originalmente, Ornella esperava se casar com Cesare. Mas ele recusou devido à ida iminente ao fronte, e ficou noiva de Leone. No entanto, o imperador adiou o casamento — não podia comemorar enquanto o irmão estava na guerra.
O Duque Farbellini, sabendo que seria vantajoso romper o noivado se Cesare perdesse, concordou com o adiamento.
Agora que o Grão-Duque retornou vitorioso, os preparativos para o casamento imperial estavam em curso, com cerimônia marcada para a primavera seguinte.
Ela estava destinada a se tornar a mulher mais nobre do Império, o centro da alta sociedade, admirada por todos. Comparada a ela, Eileen sentia uma diferença quase vergonhosa em status e importância.
Ornella, notando o lacaio e Eileen, acenou gentilmente. Sua presença era majestosa, mas graciosa, a própria essência da nobreza.
— Boa tarde — cumprimentou, com uma voz suave como sua aparência. — Também veio visitar Sua Majestade?
Eileen, pega de surpresa, curvou-se apressadamente, sentindo-se inadequada.
— Boa tarde, Lady Farbellini. Sim, estava indo ao jardim.
O sorriso de Ornella foi caloroso, dissipando parte da tensão de Eileen.
— O jardim está encantador nesta época. Tenho certeza de que vai gostar.
Com isso, Ornella se afastou com elegância, permitindo que Eileen e o lacaio continuassem. Ao passar por ela, Eileen não pôde evitar olhar para trás, seu coração cheio de admiração e uma inexplicável pontada de tristeza.
Sentindo-se constrangida, Eileen tentou agir com elegância. Curvou levemente a cabeça e, ao levantar, percebeu que Ornella ainda a observava.
— …
Ornella fitou Eileen com expressão vazia. Seus olhos verdes claros a examinaram sem disfarce. Então, virou-se para o lacaio e perguntou:
— Quem é ela?
— É Eileen Elrod, da Baronia Elrod.
Ornella respondeu com um “hmm” breve e desdenhoso, e então se aproximou. Eileen quis se esconder atrás do lacaio — mas ele deu um passo para o lado, deixando-a exposta.
Encarou Eileen intensamente enquanto tragava seu cigarro. Então, soprou a fumaça diretamente em seu rosto. Eileen, surpresa, começou a tossir sem controle. 😡
Ornella deu uma risadinha, divertida com o desconforto da outra.
— Parabéns pelo casamento.
Continua…
Tradução Elisa Erzet