A Indulgência da Besta - Capítulo 07

O interrogatório, que começou depois que os homens capturados foram amontoados em um canto da cabana, terminou surpreendentemente rápido. Louise nem precisou usar técnicas de tortura.

— Então, vocês têm certeza de que a pessoa que está secretamente se preparando para se casar com a senhorita Ovella é o Cardeal McClellan?  

— Sim, é isso mesmo.  

Louise franziu a testa e começou a pensar.

Parecia que Licht não estava ciente das intenções de Ovella. Talvez fosse um plano para tratá-lo e persuadi-lo depois que ele chegasse ao castelo do conde, mas havia muitas inconsistências para que isso fosse verdade.

Provavelmente a família do conde nunca tivesse a intenção de respeitar os desejos de Licht desde o início.

Mas… isso é mesmo possível?

Entre os sacerdotes, cardeais com vasto poder divino eram normalmente protegidos pela Igreja a todo custo. Era impossível suprimir alguém como ele e forçá-lo a um casamento—a menos que quisessem transformar toda a Nação Sagrada em sua inimiga.

Nesse caso, havia duas possibilidades.

Pode ser alguém com mais poder que Licht havia se aliado à família do conde para permitir que isso acontecesse, ou haviam planejado uma armadilha, colocando Licht em uma situação onde ele não teria escolha a não ser aceitar o casamento.

Ou talvez ambos.

Só de pensar nessas possibilidades, o rosto de Louise se contorceu em uma expressão aterrorizante.

  — Hum… agora que penso nisso, a senhorita me deu uma mensagem.  

O cavaleiro, que observava nervosamente, falou com cautela.

— O que foi?  

— Ela disse que, se fosse impossível subjugá-la, pelo menos a mantivessem aqui até de manhã…

Não pode ser…

Algo se encaixou na mente de Louise, e ela se levantou de repente.

Talvez Ovella pretendesse passar a noite com Licht, armando para que ele fosse visto saindo do quarto dela ao amanhecer.

Então, se Licht ainda recusasse o casamento, ela poderia ameaçá-lo com o escândalo. Um cardeal manchado por rumores imorais jamais poderia se tornar papa.

Claro, Licht não tinha desejo por poder, então ameaças sobre o papado não faria diferença. Mas será que ele realmente não se sentiria responsável se estivesse envolvido, mesmo que por acidente, com uma dama nobre?

Nesse momento, Louise imaginou Ovella violando o corpo inconsciente do homem, ou o Licht drogado, incapaz de resistir, cedendo a desejos incontroláveis.

Não… não!

Pálida como um fantasma, Louise abandonou os cativos amarrados e correu para fora da cabana. Precisava chegar ao castelo do conde imediatamente e encontrar Licht. Tinha que resgatá-lo das garras daqueles demônios…

No entanto, assim que saiu, Louise congelou no lugar.

— O que… é aquilo?  

À distância, uma chama colossal iluminava a noite como se fosse meio-dia.

Sem dúvida, vinha do castelo do conde.

🌸🌸🌸

As altas e resistentes muralhas, construídas com a ajuda de magos e consagradas por sacerdotes, eram completamente inúteis. O caos reinava ao redor das paredes externas do castelo, que cercavam a propriedade do conde. A multidão tentando escapar criava uma cena de completo pandemônio.

Gritos, clamores, pedidos por familiares perdidos e o choro de crianças procurando seus pais ecoavam por toda parte.

Nenhum desses desesperados clamores impediu Louise de correr contra o fluxo da multidão em fuga, avançando em direção ao castelo interno.

Sua mente estava consumida por um único pensamento.

Licht… por favor…

Ela rezava para que ele tivesse escapado do castelo em chamas.

E, se estivesse preso em algum lugar, esperava que aguentasse até que ela o encontrasse.

Ao chegar à muralha interna, Louise foi tomada pelo desespero.

O castelo interno estava completamente selado. Sua única esperança havia sido drenada. Usou toda sua força, empurrando sua aura ao limite, apenas para romper o portão do castelo. Ninguém lá dentro poderia ter escapado por conta própria.

O que… o que aconteceu aqui?

Ao entrar, confusa e atordoada, Louise encontrou seu segundo desespero.

Seguindo o forte cheiro de fumaça e sangue, começou a ver corpos — claramente assassinados.

O incêndio não começou por acidente, nem a situação havia saído do controle por acaso.

A emboscada aconteceu com força avassaladora.

Eles haviam selado o castelo por dentro, mataram as pessoas e depois incendiaram o local.

Enquanto procurava desesperadamente por Licht naquele cenário infernal, Louise chegou a uma conclusão sombria.

É obra do Clã Melbeth.

A cena lembrava uma cidade que fora destruída após ofender os Melbeth.

O Clã Melbeth, conhecido por sua excepcional habilidade mágica, também era mestre em táticas e possuía uma natureza cruel. Gostavam de ver suas presas lutando para sobreviver antes de acabar com elas sem piedade.

Até a Igreja fazia de tudo para não provocá-los.

De todos os momentos, isso tinha que acontecer justo quando Licht está aqui…?

Com o coração apertado, Louise correu incansavelmente pelo castelo. Embora a maioria das áreas estivesse em chamas e inacessível, ela tinha que vasculhar o que restava.

Sempre que atingia seu limite por inalar fumaça, purificava seus pulmões com poder divino para expelir as toxinas. Estava determinada a continuar, mesmo que morresse nas chamas, contanto que encontrasse Licht. Se o perdesse, sua vida terminaria naquele dia.

— Litch.

Chamando seu nome, Louise vasculhou cada canto que podia, até alcançar o terceiro andar do castelo.

Lá, uma sensação sinistra a levou até um quarto específico.

Parecia ser um quarto de alguém de alto status, intocado pelas chamas. Rompeu a magia protetora ao redor do aposento e entrou. Móveis luxuosos, decorações e tapeçarias caras preenchiam sua visão.

E, no centro, ela viu duas figuras deitadas em uma poça de sangue, como os cadáveres que havia passado antes.

Louise correu desesperadamente até a figura masculina.

— Licht!  

Ela não tinha interesse em saber se Ovella estava morta ou viva. Naquele momento, apenas a segurança de Licht importava.

Conforme se aproximava, suas pernas começaram a tremer.

A batina de Licht estava encharcada de sangue vermelho-escuro, e seu cabelo loiro outrora brilhante estava manchado de vermelho.

Quando ela levantou seu corpo e o deitou de costas, seu rosto pálido como a morte surgiu. Não havia sinal de respiração, e Louise, com mãos trêmulas, verificou freneticamente seu pulso.

Ainda não é tarde demais.

Ao descobrir que ele ainda tinha um pulso fraco, ela rapidamente examinou seu corpo.

A causa do sangramento era uma facada no abdômen. Após usar seu poder divino para purificar o corpo e evitar infecção, Louise estancou o sangramento.

Graças ao seu tratamento habilidoso, o sangramento foi controlado, mas o pulso de Licht continuou a enfraquecer. Ele já havia perdido muito sangue.

— Licht, por favor… abra os olhos…  

Se ele recuperasse a consciência, poderia forçá-lo a usar poder divino para se manter vivo. Mas ele não acordava. Não importava o quanto ela suplicasse, seus olhos permaneciam fechados.

— Por favor…  

Louise canalizou toda a magia sagrada que podia nele, mesmo sabendo que não curaria seus ferimentos ou restauraria sua consciência. Não suportava ficar de braços cruzados.

— Licht, por favor…  

Lutando contra as lágrimas, mordeu o lábio até sangrar, com medo de que, se começasse a chorar, significasse que havia perdido.

Segurou o rosto de Licht, acariciando-o com mãos trêmulas, e implorou repetidamente que ele acordasse, suplicando que olhasse para ela só uma vez.

Mas ele não respondeu. Seu rosto pálido e adormecido permanecia assustadoramente imóvel.

— O que… o que eu devo fazer…  

Por fim, lágrimas que ela já não conseguia conter caíram de seu queixo, pingando sobre a bochecha dele.

Se pudesse, Louise daria de bom grado seu próprio coração para salvá-lo. Ela realmente acreditava nisso.

E então, como se por revelação divina, um pensamento a atingiu.

Meu sangue…!

Até seus companheiros, que não entendiam completamente o poder regenerativo de seu sangue, costumavam brincar que, se o vendesse como cura, ficaria rica.

Nunca havia testado em outras pessoas por medo de ser rotulada como herege, mas agora não era hora de hesitar. Precisava agarrar qualquer esperança.

Sem perder tempo, Louise mordeu o próprio pulso, desesperada demais para buscar uma lâmina.

Deixou o sangue escorrer até os lábios dele. Quando a ferida cicatrizava, ela reabria sucessivamente, alimentando-o teimosamente com seu sangue.

Orou fervorosamente a Deus para que seu sangue, que tantas vezes salvara sua vida, também salvasse Licht.

Continua… 

Tradução Elisa Erzet