Eu nunca quis ter um filho dele - Capítulo 08

Seu rosto congelou com a reviravolta repentina. Seu corpo vacilou e ela caiu no chão. Sentiu dor na garganta, mas Emília não pôde deixar de sorrir.

Era uma sensação de liberdade. Ver o rosto do cavaleiro, que nem sequer havia se abalado, se contorcer em agonia trouxe uma satisfação prazerosa.

Se ao menos aquele maldito duque estivesse ali, teria sido ainda melhor. Emília não pôde deixar de sentir arrependimento. Quando seus olhos se fecharam lentamente, sentiu uma onda de líquido quente jorrar de sua garganta.

‘Ah, eu deveria ter cortado mais fundo’, pensou. Parecia que a lâmina não havia penetrado tanto quanto ela esperava. Talvez essa tivesse sido sua última chance…

— Droga! Chamem um médico imediatamente! — Beine, gritou, abrindo a porta e berrando para uma criada no corredor.

Ele arrancou rapidamente o caco de vidro da mão de Emília e começou a fazer pressão. Emilia sentia sua força desaparecer, mas, infelizmente, ela não morreria.

🌸🌸🌸

Ao receber a notícia, Mikhail entrou e viu Emília deitada na cama. Seu pescoço estava enfaixado, e vários panos manchados de sangue jaziam por perto.

— Duque, me desculpe, — disse Beine.

— Não precisa dizer nada, — respondeu Mikhail, observando seu rosto pálido. Sua pele acinzentada, combinada ao cabelo ruivo, a fazia parecer ainda mais pálida.

— Ela parece uma morta, — comentou ele.

— O médico disse que os ferimentos não foram tão profundos quanto pensávamos, isso é um alívio.

Mikhail se aproximou de Emília e começou a desenrolar a bandagem do pescoço dela.

— Parece que o caco não era tão afiado quanto pensei — comentou ele, — apesar de ter aplicado bastante força. Acho que ela realmente queria morrer.

Ele pressionou firmemente a mão contra o ferimento. Beine advertiu:

 — Vossa Graça, pressionar assim só vai piorar o machucado.

— Mesmo que piore, dificilmente deixará marcas visíveis. Ela talvez até agradeça. Já que não consegue morrer, provavelmente prefere que eu acabe com sua vida — respondeu ele, pressionando ainda mais o ferimento. 🤨😠

‘Deveria simplesmente cortar sua garganta assim? Seu pescoço delicado parece se partir com um simples gesto.’ Pensou em estrangulá-la, então refletiu:

‘Não, não vou realizar seus desejos.’

De repente, sentiu uma onda de raiva. Se essa mulher não ansiasse pela morte, talvez ele a matasse por impulso. Mas, é claro, ele jamais permitirá que ela morra justo quando ela claramente escolheu isso. Limpou os dedos ensanguentados com um lenço — um tom vermelho que lembrava seus cabelos.

Observando as ações de Mikhail, Beine disse:

— Não deixarei mais nenhum objeto perigoso no quarto. Já havia tomado precauções, mas depois do ocorrido hoje, não posso garantir que isso não volte a acontecer.

Beine não faria uma declaração dessas à toa.

Mikhail olhou mais uma vez para Emília, ainda adormecida, e desviou o olhar como se tivesse perdido o interesse. De costas para ela, falou a Beine:

— Ela provavelmente percebeu que essa era sua única chance. Não reaja a nada que ela fizer. Se perceber que nada mudou, será ainda mais infernal para ela. E mais uma coisa.

— Não se preocupe, cuidarei para que isso não chegue aos ouvidos de Sua Majestade.

Perspicaz, Beine respondeu imediatamente. Mikhail assentiu e saiu do quarto.

🌸🌸🌸

A dor na garganta ainda latejava. Emilia abriu as pálpebras pesadas e encarou o teto.

‘Ah, não morri, afinal.’

Ela estava estirada na cama, com as mãos tocando o pescoço. As bandagens quase sem manchas de sangue indicavam que haviam tratado dela. Ela se perguntava se ele mostrara a mesma expressão de perplexidade que Beine.

‘Queria ter visto aquele olhar arrogante se contorcer de confusão.’

Infelizmente, não teve a chance. Na verdade, nem esperava que ele viesse ao saber de sua condição, mas isso pouco importava.

Sentou-se com cuidado, a garganta doendo. Um gemido baixo escapou de seus lábios.

— Ugh.

Ao emitir o som, a dor aumentou. Ela soltou a mão do pescoço e examinou o quarto com atenção.

— Hã!

Ficou surpresa ao ver que praticamente não havia mais nada no ambiente. Sabia que seria sua única oportunidade, mas não imaginava que fossem tão meticulosos

No quarto espaçoso, só havia uma cama — até as detestáveis cortinas de renda haviam sumido. O papel de parede verde-escuro exibia flores desabrochando aqui e ali.

Não havia sequer uma garrafa d’água sobre a mesa, muito menos uma caneta para escrever. Parecia que haviam removido qualquer coisa que pudesse ser usada como arma.

 — Que minuciosos.

Emilia se surpreendeu com sua própria voz rouca, mas achou que não soava desagradável.

Recostou-se na cama. Qual seria sua saída daquele lugar?

‘… A cerimônia de casamento.’

Continua…

Tradução Elisa Erzet